Amazonas – Cachoeira de Iauaretê


cachoeira sagrada

Imagem: Iphan

A Cachoeira de Iauaretê, ou Cachoeira da Onça, é um lugar de referência para dez povos indígenas da região banhada pelos rios Uaupés e Papuri.

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Nome Atribuído: Cachoeira de Iauaretê: Lugar Sagrado dos povos indígenas dos Rios Uaupés e Papuri
Localização: Estado do Amazonas
Abrangência: Local
Livro de Registro de Lugar: Inscr. nº 8, de 08/10/2006
Descrição: A Cachoeira de Iauaretê faz parte do cenário descrito nos mitos de origem de vários povos indígenas que vivem no Rio Uaupés atualmente (Tukano, Tariano, Desana e Piratapuia, entre outros).
Esses mitos tematizam o processo de transformações que resulta no aparecimento dos primeiros humanos e suas diferentes versões se constroem sobre um fundo compartilhado por todos esses grupos.
Ainda em 2004, nas etapas iniciais do processo de documentação que levou ao registro, lideranças Tukano demonstraram certo estranhamento ao perceber que o Iphan vinha mantendo diálogo apenas com os Tariano, e reivindicou também prerrogativas sobre a Cachoeira e sobre a forma como ela é “contada”.
Isso deflagrou um processo de negociação que culminou na decisão de registrá-la em nome de todos os povos indígenas do Rio Uaupés.
Assim, embora o mito de referência que orienta o registro da Cachoeira de Iauaretê pertença ao clã Koivathe do povo Tariano, ele se articula às versões narradas pelos Tukano e outros povos que habitam a bacia do Rio Uaupés e a região do noroeste amazônico em geral.
Na história dos Diroá contada pelos Tariano e na história da cobra-canoa contada pelos Tukano, animais, fenômenos naturais e artefatos são imbuídos de potências capazes de deflagrar processos de transformação. Assim, o bastão de quartzo pode criar um rio ou igarapé, ou um ser humano pode surgir a partir do sopro da fumaça de um cigarro de tabaco. Nesses, como em tantos outros casos, o bastão e o cigarro são os meios pelos quais a humanidade tem origem.
Essa potência advém daquele fundo compartilhado por todos os grupos do Uaupés, mencionado acima, e que diz respeito às condições iniciais de existência do universo, um tempo em que os seres primordiais guardavam uma “força de vida” em si mesmos. A condição humana surgirá somente mais tarde, após inúmeros episódios que, paulatinamente, vão dando forma ao mundo de hoje e de seus habitantes. É, portanto, um resultado instável de um processo constante de transformações. Essas transformações do tempo mítico são manejadas no presente pelas falas do kumu, seja “benzendo” alimentos ou curando enfermidades. É esse especialista que cuida de atualizar a força de vida que originou cada um dos grupos do Uaupés, rememorando ritualmente sua história e atribuindo nomes a seus membros atuais.
Ao contar sua história, portanto, os Tariano Koivathe estão endereçando aos demais grupos sua própria visão acerca tanto da origem do universo quanto de si mesmos. E a esse relato se articulam outros tantos que se constituem como respostas ao primeiro.
Dessa maneira, há um caráter de interdependência entre as diferentes versões dos mitos dos povos do Uaupés, em que contar uma versão enseja uma resposta ritualizada por outro grupo. Se antes isso era feito por meio das disputas verbais e diálogos cerimoniais que cadenciam os dabucuris – rituais de trocas de alimentos e outros bens entre grupos –, o processo de debates em torno do registro da Cachoeira de Iauaretê forneceu uma nova ocasião na qual essa mesma relação se fez mostrar.
Mitos e histórias são, assim, a base sobre a qual relações políticas entre povos aparentados são estabelecidas ao longo do tempo.
Essas relações envolvem disputas em torno de posições hierárquicas e recursos simbólicos e materiais, de forma que sua atualização constante enseja uma espécie de diplomacia narrativa, cujas convenções específicas permitem resolver questões políticas. Nesse processo, há conhecimentos necessariamente compartilhados e outros restritos a especialistas e grupos específicos.
Se há um fundo comum de onde emanam princípios gerais e compartilhados, há, por outro lado, diferentes formas de tematizá-los por meio dos relatos acerca da origem do universo e da humanidade. A essas se articulam várias outras histórias particularizadas, nas quais se buscam afirmar posições e prerrogativas virtuais. Assim, para que se torne eficaz, o conhecimento precisa ser em parte compartilhado; para que, daí, cada parte e cada coletivo possa se constituir como tal e participar da extensa rede de trocas que caracteriza o sistema social do Uaupés. Ou seja, o compartilhamento e o reconhecimento mútuo de histórias paralelas são duas faces da
mesma moeda.
Fonte: Iphan.

Descrição: A Cachoeira de Iauaretê, ou Cachoeira da Onça, corresponde a um lugar de referência fundamental para os povos indígenas que habitam a região banhada pelos rios Uaupés e Papuri, reunidos em dez comunidades, multiculturais na maioria, compostas pelas etnias de filiação linguística Tukano Oriental, Aruaque e Maku. Sua inscrição no Livro dos Lugares foi realizada em 2006.
Fonte: Iphan.

Descrição: A região conhecida como Alto Rio Negro (AM) abriga, hoje, uma população de aproximadamente 40.000 pessoas, distribuídas em comunidades e sítios localizados ao longo do Rio Negro e de seus afluentes, tais como os Rios Uaupés, Içana e Xié; e nos dois centros urbanos regionais, São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel do Rio Negro. Ao longo de 10,6 milhões de hectares de terras indígenas demarcadas, convivem representantes de duas grandes famílias lingüísticas: os Arwak e os Tukano Orientais. Há, ainda, os Maku, para os quais não foram encontradas as respectivas afiliações lingüísticas.
O reconhecimento dos lugares sagrados dos povos que vivem na confluência dos Rios Uaupés e Papurí, na localidade conhecida como Iauaretê, destaca a inesgotável capacidade desses povos indígenas criarem e recriarem suas  tradições na perspectiva de um projeto histórico de resistência cultural.
Nos lugares sagrados como as pedras, lajes e igarapés situados na Cachoeira de Iauaretê e seu entorno, estão escritas as histórias de criação da humanidade e de ocupação do território em que eles vivem desde tempos imemoriais.
Esses lugares indicam, igualmente, os códigos de manejo social organizadores da vida, tais como as formas de convivência e os mecanismos de transmissão dos saberes, identificadores das várias etnias que compartilham territórios e padrões culturais.
Dessa forma, por possuir esses importantes lugares sagrados, a Cachoeira de Iauaretê foi proclamada “Patrimônio Cultural do Brasil” pelo Iphan em agosto de 2006, sendo o primeiro bem cultural inscrito no Livro de Registro dos Lugares.
Fonte: Iphan.

FOTOS:

VÍDEO:

Fonte: Iphan.

MAIS INFORMAÇÕES:
Dossiê – Iphan
Iphan
SICG
Wikipedia


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