Brasília – Reservatório Elevado de Ceilândia


Imagem: Sandra Schmitt Soster

O Reservatório Elevado de Ceilândia tem 27m de altura. Foi a solução para a distribuição de água na cidade.  Projeto modernista de Gerhard Leo Linzmeyer. Início das obras em 1973. Conclusão: 1975. Funcionamento: 1977.

SEC – Secretaria de Estado de Cultura
Nome Atribuído: Reservatório Elevado de Ceilândia (caixa d’água)
Outros Nomes: Caixa d’água da Ceilândia
Localização: QNm 2, conjunto A – Ceilândia – Brasília-DF
Decreto de Tombamento: Decreto nº 34.845, de 18/11/2013, DODF nº 242, de 19/11/2013, p. 18
Descrição: A Região Administrativa IX (RA), mais conhecida como Ceilândia, tem sua origem ligada à remoção dos pioneiros construtores de Brasília após o término das obras da capital federal. A grande oferta de empregos e as melhores condições de vida atraíram principalmente os trabalhadores da região nordestina, pois na década de 1950 a região sofria com uma das piores secas da história. Mais especificamente em 1958, as pessoas residentes na região perderam as esperanças de que a chuva chegasse e o grande êxodo dessa década teve início (OLIVEIRA, 2000).
Dada a inauguração de Brasília, em 1960, era previsto pelo governo local que um terço dos trabalhadores voltassem para seus estados, um terço ficasse em Brasília e o restante se voltasse às atividades agrícolas em áreas próximas (RESENDE, 1985). Apesar da situação precária em que viviam nas vilas operárias, ainda assim eles as consideravam melhores do que as presenciadas em seus estados de origem e a maioria optou por permanecer nos arredores de Brasília (SILVA, 2010), sendo as vilas mais conhecidas a Vila do IAPI, Morro do Querosene e Placa das Mercedes (RESENDE, 1985). As moradias nessas localidades eram construídas com restos de madeira, papelão ou zinco, e seriam apenas provisórias, mas logo se tornaram verdadeiras cidades. Nas vilas operárias, eram inexistentes os serviços de iluminação pública, rede de esgoto e água encanada, mas havia uma estrutura social estabelecida, onde os candangos tentavam manter algumas características dos seus locais de origem, dessa forma faziam encontros, festas e o comércio era feito na forma das feiras (TAVARES, 2009).
Em 1970, a população total dessas áreas chegava a 70.128 habitantes (AMMAN, 1987). Com a justificativa do governo de que as vilas operárias estavam localizadas em uma área chamada de anel sanitário, a permanência da população poderia trazer sérios riscos ao saneamento básico da capital (TAVARES, 2005). Foi construída a Estrada Parque do Contorno, que, como o nome diz, contorna o Plano Piloto e representa o estabelecimento de uma fronteira que mediasse a sua preservação. A própria estrada funcionava como anel sanitário e apenas seriam “permitidas as construções de casas isoladas com grandes distâncias de mais de 1Km entre cada uma como previu Lúcio Costa” (TAVARES, 2009, p. 68). Dessa forma ficou estabelecido um referencial de preservação ambiental para nortear a expansão urbana, o que resultaria na remoção das vilas operárias e a criação das RAs. Mas essa justificativa apenas serviu para afastar a população mais pobre da área, enquanto as classes média e média-alta foram beneficiadas com a criação do Guará, Lago Sul e a ocupação da península do Lago Norte (TAVARES, 2009). Essa política de ocupação do solo do DF foi caracterizada como “saneamento estético”, pois a proximidade das vilas operárias com a capital trazia uma imagem ruim à cidade modernista (AMMANN, 1987, p. 21).
Baseado nessa premissa o governo criou a Campanha de Erradicação de Invasões (CEI), que daria nome à nova RA que seria criada a 35 km do Plano Piloto. A CEI tinha como objetivo conscientizar a população dos motivos para a remoção das vilas e as melhorias nas condições de vida que os moradores teriam (TAVARES, 2009). Mesmo contra a vontade dos pioneiros, as remoções tiveram início no dia 27 de março de 1971.
[…]
A cidade não tinha saneamento básico, iluminação pública e água encanada, sendo este último um dos problemas que mais demorou a ser resolvido. Houve uma significativa redução na renda das famílias recém-chegadas, pois a distância da Ceilândia ao Plano Piloto aumentou e o custo do transporte impossibilitava que as mulheres e os filhos menores ajudassem na composição da renda familiar. As mulheres trabalhavam geralmente como lavadeiras, mas como a Ceilândia não tinha serviço de água encanada e o mesmo demorou a ser implantado, essa atividade não poderia ser realizada (GOUVÊA, 1995).
Os moradores de Ceilândia recebiam água por meio de caminhões adaptados mandados pelo Serviço de Abastecimento, que passava na cidade de oito em oito dias (TAVARES, 2005). Essa escassez fazia a população passar por situações degradantes, como conta em depoimento uma moradora: “A água que lavava o arroz, a gente juntava
para lavar as crianças” (AMMANN, 1987, p. 25). Esta situação se tornou uma cruel ironia para os pioneiros de Brasília, que foram ao Planalto Central em busca de empregos e que fugiram da seca que afligia a região na década de 1950, para vivenciar uma realidade talvez pior a apenas 35 km da capital federal. A solução para a distribuição de água na cidade começava a tomar forma em 1973, quando começaram as obras do Reservatório Elevado de Ceilândia ou Elevatória Cruzeiro, mais conhecida como Caixa d’água de Ceilândia.
As obras foram concluídas em 1975, mas o reservatório só começou a funcionar em 1977 (RESENDE, 1985). Com um projeto modernista realizado pelo arquiteto paranaense Gerhard Leo Linzmeyer, a elevatória de 27 metros de altura tomou uma forma diferente de tudo que se tinha visto até então na cidade, o design arrojado da Caixa d’água dava asas à imaginação da população: uns dizem que se parece com uma nave espacial, outros com uma flor e até mesmo um troféu. Esta última analogia se encaixa perfeitamente para o que a Caixa d’água representa para o cidadão ceilandense: uma vitória depois de tantos anos de lutas para conseguir condições mínimas de vida, para uma população que desde o início da história do Distrito Federal foi abandonada e leva em seu nome, derivação da sigla C.E.I., a marca de invasora da cidade que ela ajudou a construir.
A Caixa d’água de Ceilândia tornou-se o considerado cartão postal da cidade, não só pelo design, mas por se localizar na região central da cidade, por onde o ceilandense passa diariamente, seja para trabalhar, fazer compras ou por lazer. A cidade passou por diversas modificações desde então, a Feira do Rolo que funcionava todos os domingos em frente a Caixa d’água mudou-se para a Expansão do Setor “O”, os cinemas que funcionavam em volta já não existem mais, a Praça do Encontro foi substituída pelo Restaurante Comunitário, mas o seu símbolo maior permanece em funcionamento até os dias de hoje.
Fonte: Vinicius Carvalho Pereira.

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Vinicius Carvalho Pereira


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