Betim – Ofício da Benzeção
O Ofício da Benzeção foi registrado pela Prefeitura Municipal de Betim-MG por sua importância cultural para a cidade.
Prefeitura Municipal de Betim-MG
Nome atribuído: Ofício da Benzeção (saberes)
Localização: Betim-MG
Decreto de Registro: I. 15/2015
Livro de Registro dos Saberes
Dossiê de Tombamento
Descrição: A prática da benzeção se faz presente no Brasil desde a época colonial, com sua origem remetendo-se aos textos bíblicos, tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento e retratando passagens em que determinados indivíduos concediam e pediam a ―benção. Durante a Alta Idade Média no continente europeu essa prática tornou-se comum entre a população. Nesse período, os sacerdotes concediam a benção às pessoas e aos seus animais para livrarem-se das enfermidades que os acometia. Mas ao longo do tempo e, partindo das interações sociais e religiosas, indivíduos leigos que não possuíam a autorização da Igreja Católica passaram a praticar as benzeções no intuito de atenderem às necessidades da comunidade em que se inseriam.
A partir desse momento, em Portugal, a prática da benzeção passou a ser condenada pela Igreja Católica e pela Coroa, e seus praticantes foram perseguidos no intuito de acabar com tal ato.
Souza (1986, p. 184) ressalta que ―em 1499, D. Manuel determinava que, juntamente com os feiticeiros, os benzedores fossem ferrados com um F em ambas as faces. No período em que Portugal ficou sob o domínio da Espanha de Felipe II, mais conhecido como União Ibérica (1580-1640), nas Ordenações Filipinas, que era um código legislativo que regulamentava o funcionamento de diversos setores da administração e do comportamento da sociedade, havia uma ordem para que a prática da benzeção não fosse realizada sem a autorização e sem o consentimento da Igreja e da Coroa.
Em relação à América portuguesa, o convívio entre grupos étnicos e culturais diversos possibilitou que a prática da benzeção e de outros rituais de cura se diversificasse no território colonial, principalmente, com a contribuição dos hábitos culturais dos indígenas e africanos. Essa prática foi absorvida pela população que, em razão da escassez de médicos atuantes nas regiões mais ermas, bem como a falta de clérigos, passou a enxergar essas práticas heterodoxas como mecanismos para restabelecer a saúde e afastar inúmeras enfermidades.
Nesse sentido, discorrendo a respeito do território das Minas Gerais, Marques (2007, p. 230) salienta que ―a carência de médicos, porém, não era um problema para a maioria dos mineiros que tinham à sua disposição uma diversidade de recursos curativos, principalmente, a crença de que a Deus ou às forças sobrenaturais cabia o direito de dar e tirar a vida.
Nessa perspectiva, percebe-se que a população da América Portuguesa, principalmente, das Minas Gerais, utilizavam outros mecanismos para alcançarem a cura e evitar enfermidades. Tal fato contribuiu para que o aspecto devocional aos santos aumentasse, pois a população os enxergava como especialistas que podiam interceder pela sua saúde. Essa realidade da sociedade colonial possibilitou que essas práticas heterodoxas fossem procuradas e aceitas pela população para atingirem a cura, principalmente, a benzeção. […]
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Durante a execução do ritual o benzedeiro utiliza objetos de cunho sagrado, como terços e crucifixos, em conjunto com orações do catolicismo, como o Pai-Nosso, Ave-Maria, Salve Rainha, além de outras, e velas, facas, brasas, ramos de plantas ou talos de planta, copos com água, agulhas, panos etc. Cada objeto utilizado possui uma função e são escolhidos de acordo com os males identificados. Na religiosidade católica, por exemplo, o terço possui um significado em relação às preces e à oração a Deus e durante o ritual da benzeção ele auxilia na cura das enfermidades que encerra o corpo do benzido em um círculo sagrado para que este indivíduo alcance seu objetivo.
Nas rezas voltadas para a cura de doenças como o ―cobreiro‖ ou a ―erisipela‖ os objetos podem ser utilizados em conjunto, como a faca com um ramo de planta, nesse caso usa-se talos da mamona ou da árvore assa-peixe. O uso desses objetos representa o corte da doença que está no corpo do indivíduo. Ao praticar o ritual da benzeção contra o ―cobreiro‖, o benzedeiro utiliza a faca para cortar o talo da planta e faz a seguinte questão que deve ser respondida pelo benzido e as outras expressões repetidas por ele: ―O que corta? Resposta: cobreiro bravo; Corta a cabeça, corta o rabo e corta o meio também.
Tais palavras são ditas três vezes e os talos cortados devem ser deixados em um local para secarem a luz do Sol, e quando secar a enfermidade não estará mais presente no corpo do benzido, mas o ritual pode se diferenciar de acordo com o conhecimento que cada benzedeiro aprendeu. Para a maior parte dos benzedores não se deve cobrar pela ritual da benzeção, pois este é um dom concedido por Deus e o intuito se resume em ajudar o próximo. […]
Fonte: Dossiê de Tombamento.