Guanhães – Marujada Zico de Olina


Fonte: Inventário

A Marujada Zico de Olina foi registrada pela Prefeitura Municipal de Guanhães-MG por sua importância cultural para a cidade.

Prefeitura Municipal de Guanhães-MG
Nome atribuído: Marujada Zico de Olina (Formas de Expressão)
Localização: Guanhães-MG
Decreto de Tombamento: Decreto n° 3793/2013 – I. 001/2013
Livro de Registro das Formas de Expressão
Inventário

Descrição: Os grupos de marujadas de Guanhães se apresentam durante todo o ano, principalmente em festas da cidade e em eventos em municípios vizinhos, como Virginópolis, Dores de Guanhães e Peçanha. Em Guanhães, apresentam-se regularmente nas festas de São Sebastião, em fevereiro, na Festa do Cruzeiro, em maio, na Festa de Nossa Senhora de Aparecida, em outubro, no Invemo Cuttural, em agosto, e em Festividades organizadas pelos membros dos grupos locais.
Fonte: Inventário.

Histórico do bem: A Marujada é uma dança dramática de inspiração náutica e origem ibérica, com diversas denominações diferente nas várias regiões! brasileira! onde se faz presente. Recebe também a denominação de Nau Catarineta, Barca, Fandango ou Chegança de Marujos. São danças realizadas através de um auto dramatizado da tragédia da Nau Catarineta, com o domínio do canto sobre a dança. Os personagens vestem-se de marinheiros, o enredo narra as tormentas em alto mar e trabalhos a bordo, como também o episódio da “libertação da Saloia”, iniciadas com troca de sinais entre a “Nau Catarineta” e a ‘Fortaleza do Diu”. Consta o auto de cantos, recitativos, diálogos e da “morte e ressurreição do Gajeiro”.
As marujadas, ou o fandango, possuem vários sentidos no Brasil. Em alguns estados do nordeste, fandango é o bailado dos marujos ou marujada, ou ainda, chegança dos marujos ou barca. Em São Paulo e nos estados do sul, Fandango é a festa, baile com danças Regionais. Acredita-se que os portugueses tenham introduzido o fandango no Brasil, sobretudo pelos nomes que as variações dessa dança recebem no sul do Brasil: marrafa, manjericão, tirana, ciranda, cana verde e outras.
A prática da representação da marujada remonta, em Guanhães, ao início de seu povoamento, ainda no período imperial brasileiro, No primeiro século da independência, com a observância do sistema escravista, a sociedade era fortemente marcada pela distinção de cor e procedêncÌa. A escravidão subordinava o negro que, na sua condição de escravo, era tratado de forma bruta, sem ter quem os defendesse ou representasse. Vários escravos se revoltavam contra a situação de humilhação, se rebelando contra seus senhores. Mesmo com tanta violência, o negro buscava formas de “libertar-se”, de expressar seus desejos e revoltas. Então cantavam, dançavam. Os cantos entoados na mineração, por exemplo, eram chamados de vissungos, que são cantos relìgiosos, de protesto, denúncia. A dança aparece neste contexto como uma das manifestações culturais mais representativas da cultura negra. Entre os povos negros que forneceram escravos para a América, a dança era uma instituição nos autos da caça, guerra, danças sexuais, funerárias, religiosas. Em Minas Geraìs, a dança alegrava os mineradores, tinha um forte significado nas festas religiosas. No congado os escravos reviviam episódios de sua terra natal, faziam suas orações, escolhiam seus reis e rainhas. Segundo o mesmo autor, nas congadas havia uma confraternização, era um momento para tentar apaziguar o sofrimento e as injustiças que assolavam as senzalas.
É possível encontrar algumas danças folclóricas influenciadas pelas tradições, hábitos e crenças da raça negra quando não pelo “sincretismo entre o catolicismo europeu e expressões da religiosidade africana”. Como, por exemplo, acontece no reinado ou congado, típicos do estado de Minas Gerais. Nas cidades médias e grandes as festas cívicas, históricas e profanas conquistam um lugar de crescente importância, enquanto nas pequenas cidades e nos povoados do interior elas ocupam um segundo plano, e os festejos locais e religiosos povoam quase todo o calendário.
Os primeiros grupos de marujadas organizados em Guanhães datam das décadas de 1920 e 1930. Nesta época, formaram-se os grupos conhecidos como “Grupo do Juca”, “Grupo do Oswaldo”, “Grupo do Adão Café” e, principalmente, o “Grupo Marujada Zico de Olina”. Estes grupos faziam diversos festejos, nos quais se reuniam e dançavam diferentes coreografias, misturando técnicas e trocando informações sobre a prática da marujada. A participação era grande, e a variedade de grupos se dava, inctusjve, porque havia pessoas disponíveis para comandar os grupos, já que a vIda era mais pacata.
Estes grupos tiveram grande importância até a década de 1960, quando o número de participantes começou a cair. Com a mudança nos hábitos dos habitantes da cidade de Guanhães, gue modemizava-se e passava a adquirir ares de cidade de médio porte, as pessoas passaram a ter cada vez menos tempo para se dedicar às atividades de lazer. Além disso, os antigos organizadores das marujadas já se encontravam com idade avançada, não possuindo mais força e vigor para comandar e participar dos festejos e danças. Nas décadas de 1960 e 1970, os grupos citados acima encerraram suas atividades, e os remanescentes tentaram diversas vezes montar um grupo reunindo aqueles que ainda acreditavam na prática. Dois dos principais incentivadores da prática eram, então, Marconi Santos e Juca Alves. Juca tentara por três vezes organizar um grupo com os remanescentes das marujadas antigas, adotando o nome de “Marujada Zico de Olina”, a fim de manter viva a tradição dos grupos do passado. Estas tentativas esbarravam, no entanto, na falta de organização e no comportamento dos participantes, que, em alguns casos, embriagavam-se antes dos festejos, ficando incapacitados de bailar.
No final da década de 1970, os antigos “marujos” estavam em vias de desistir. Havia ocasiões em que não se conseguia reunir o número mínimo de marujos, que é de 20, para os ensaios. Diante de tal situação, uma das filhas de Zico de Olina, conhecida como “Noca”, procura Marconi Santos, que participara das tentativas de manter vivo o Grupo Zico de Olina, e propõe a organização de um grupo com regras rígidas, para afastar a desorganização reinante nas tentativas passadas. Marconi concordou, pedindo, no entanto para ser o “capitão” do grupo de marujada, uma vez que adquirira experiência com a participação nos grupos instáveis durante as décadas de 1960 e 1970. Aceita a proposta, decidem continuar com o nome “Zico de Olina”, para honrar o principal grupo do passado de Guanhães. Suas atìüdades iniciam-se no ano de q982, na região de Guanhães conhecida como “Pito”.
O estabelecimento destas regras contribuiu para que o grupo adquirisse uma formação fixa, começando a se expandir em pouco tempo. A organização e a beleza do espetáculo que passaram a oferecer atraíram aqueles que já haviam desistido das marujadas, e estes passaram a querer fazer parte do novo grupo. Ironicamente, em pouco tempo o grupo passou a ter problemas com o grande número de pessoas que aparecia para os ensaios. As apresentações contavam com os marujos e também com o grupo de “caboclinhos” de Dona Laura, conhecida festeira de Guanhães.
No início da década de 1990, uma das irmãs de Noca decide montar seu próprio grupo, adotando também o nome “Zico de Olina”. Desde então há uma rixa entre os dois grupos, uma vez que um lado afirma que não fora convidada para participar do novo grupo, enquanto o outro alega ciúmes da oponente.
O fato é que, com a existência de dois grupos de mesmo nome, um deles teve de ceder e mudar sua denominação. Marconi afìrma que, no intuito de não causar confusões e distinguir-se do grupo que formava-se, caracterizado pela igual desorganização, procedeu à escolha de outro nome para o seu grupo. Vários nomes foram sugeridos, como Marujada do Pito, Marujada de São Benedito e Marujada de São Miguel. Mas o nome que foi escolhido por unanimidade fora “Marujada de Nossa Senhora Aparecida”. Assim, Guanhães passou a contar com dois grupos oficiais de Marujadas, o Grupo Marujada Nossa Senhora Aparecida e o Grupo Marujada Zico de Olina. A rivatìdade entre os grupos se expressa no fato de que não é permìtìda a participação em ambos, devendo-se escolher entre um deles. Marconi Alves afirma que proibiu a entrada de membros do Grupo Zìco de Olina porque estes se juntavam, pesquisavam as técnicas utilizadas, e depois as passavam para o outro grupo.
Estes dois grupos existem até os dias atuais, e suas coreografias e músicas são bem parecidas. Eles contam com o apoio de estabelecimentos comerciais de Guanhães, que fomecem os materiais para a confecção das roupas, bandeiras, mastros, fitas e adereços. A atuação desses grupos passou a despertar o interesse da imprensa local, principalmente por meio do jornal “Folha de Guanhães”, e os grupos ficaram bastante conhecidos na cidade, desfilando nos principais festejos religiosos.
O Grupo Marujada Nossa Senhora Aparecida, por ser mais organizado, possuindo atos de fundação, eleições, reuniões e documentos dos membros reconhecendo a filiação ao grupo, passou a receber da Prefeitura Municipal, em 2008, uma ajuda de custeio de materiais de aproximadamente meio salário mínimo, com a qual consegue comprar os instrumentos, couros e tecidos de que necessitam. O Grupo Marujada Zico de Olina conta apenas com os recursos de seus participantes, mas já está tomando providências para a oficialização de sua existência, para que possa receber também o apoio da Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal.
Fonte: Inventário.

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