Belo Horizonte – Residência de Amílcar Agretti


Imagem: Google Street View

No porão da Residência de Amílcar Agretti (R. Pouso Alegre, nº 404) foi fundada uma escola de pintura. A família Agretti ganhou notoriedade na prática da pintura parietal.

FMC – Fundação Municipal de Cultura
Nome atribuído: Imóvel à R. Pouso Alegre, nº 404
Outros Nomes: Edifício Amilcar Agretti; Residência de Amílcar Agretti
Localização: R. Pouso Alegre, nº 404 – Belo Horizonte-MG
Descrição: A história do bem cultural da rua Pouso Alegre, 404 está intimamente associada à história da família Agretti, composta por imigrantes italianos que, assim como muitos outros estrangeiros, ajudaram no processo inicial de ocupação do bairro da Floresta. Parte desta história foi recuperada por meio do depoimento fornecido por Carlos Correia de Aquino (12/01/1928) à Equipe da DIPC56. Viúvo, professor da Faculdade de Direito de Itaúna e pai de seis Filhos, Carlos Correia é neto do primeiro proprietário do bem cultural, o senhor Francisco Agretti.
Vale ressaltar que dentre os imigrantes que ajudaram a conformar o bairro da Floresta, os italianos foram os que vieram em maior número, pois a Comissão Construtora adotou uma política de imigração para arregimentar mão-de-obra, por meio de propaganda em jornais italianos, descrevendo as vantagens da imigração.
Em 1898, Francisco Agretti (1857-1922), italiano da cidade de Imola, decidiu mudar-se com a sua esposa Adélia Séptimo Agretti e seu filho Amílcar Agretti (1887-1968) para o Brasil. Na ocasião, Francisco desempenhava a atividade de pintor e decorador, tendo se formado na Escola de Belas Artes de Bolonha. As razões de sua vinda para o Brasil são desconhecidas.
Sabe-se que a partir da década de 1870, os italianos começaram a imigrar em número significativo para o Brasil, impulsionados pelas transformações socioeconômicas em curso na península itálica e que afetaram, sobretudo, a propriedade da terra. Eram, portanto, imigrantes agricultores, em sua maioria. Este não foi, entretanto, o caso da família Agretti que não possuía origens rurais. Ao contrário disto, segundo as palavras de Carlos Correia, o seu avô Francisco era um homem letrado, um latinista e poeta.
Chegando ao Brasil, a família Agretti residiu, inicialmente, em Lorena, São Paulo. Em 1903, mudou-se para Minas Gerais, tendo residido em Mariana, localidade onde nasceu o segundo filho do casal, Aurélia Agretti. Segundo o Dicionário Biográfico de Construtores e Artistas de Belo Horizonte (1894-1940), Francisco e sua família teriam se transferido para a capital mineira em 1905. Todavia, Carlos Correia assegura que o avô chegou em Belo Horizonte em 1904, visto que nesta data nasceu o seu terceiro filho, Aristides Agretti, quando então a família residia em um imóvel na avenida Amazonas. Em 1906, nasceu a última filha do casal, Helena Agretti, quando a família já morava na casa da rua Pouso Alegre, 404. Com base nestas datas, Carlos deduz que o bem cultural ora estudado tenha sido construída entre 1903 e 1906.
Segundo microfilme localizado nos arquivos da prefeitura de Belo Horizonte, a casa foi construída pelo suíço João Morandi, arquiteto e escultor com o qual Francisco e Amílcar Agretti trabalharam na ocasião da construção do edifício do Palácio da Liberdade e da Estação Oeste de Minas. Não consta do microfilme a data da edificação do bem cultural para que se possa confirmar a data inferida por Carlos Correia.
Com exceção de Aurélia, todos os demais filhos de Francisco Agretti dedicaram-se à pintura, o que permitiu à
família destacar-se no cenário artístico da nova capital mineira. Por volta de 1920, tornou-se moda em Belo
Horizonte o uso de pinturas decorativas das fachadas laterais, especialmente de alpendres. Havia uma preocupação em tratar de maneira artística os elementos construtivos das casas, como as colunas, treliças, guardacorpos, pisos, forros, escadas e, sobretudo, o paramento das paredes externas à residência, mas internas aos alpendres. Os temas usados nas pinturas eram de paisagens campestres, marinhas, natureza morta, aparecendo também pessoas, barcos, animais, pontes e igrejas. Para Ivo Porto de Menezes, é difícil precisar a fonte de inspiração da maioria dos painéis. O estudioso percebe, porém, que alguns imitam cartões postais, outros, num gesto de saudosismo, retratam cenas da terra natal do proprietário. Já das pinturas marinhas, nas quais são retratados mar e navios, pode-se inferir a presença de referências vinculadas às viagens vivenciadas pelos imigrantes europeus ao Brasil, visto que grande parte destes pintores parietais era de origem italiana. Quanto às técnicas utilizadas, estas variavam de acordo com a formação dos pintores e ao sabor de seu trabalho, sendo utilizado quase exclusivamente o óleo, que era empregado de maneiras diferentes, ora em pinceladas longas e rápidas, ora com o uso de espátulas, dando impressões variadas ao observador. […]
É neste contexto que a família Agretti ganhou notoriedade na prática da pintura parietal, desenvolvendo trabalhos em diversas casas residenciais e edifícios públicos. Os trabalhos de Francisco Agretti podem ser encontrados no Palácio da Liberdade (1898), na Estação Central (1920-1922), na Estação Oeste de Minas (1922) e no palacete João Pinheiro (1922). Já Amílcar Agretti foi responsável por pinturas decorativas em várias edificações da cidade, como o palacete João Pinheiro (1909), já demolido, e em diversas casas para funcionários. Merecem ser citadas edificações na rua Alagoas, 813, Residência de Joaquim Furtado de Menezes (demolida), na avenida Getúlio Vargas, 923, residência de Lúcio José dos Santos (demolida), na rua Pouso Alegre, 259 (demolida), na rua Santa Rita Durão, 848, residência de Álvares da Silveira (demolida), na rua Itapecerica, 70 (demolida) e na rua da Bahia, 1764, residência de
Alvimar Carneiro de Rezende (demolida). Além destas casas, Amílcar seria o autor das pinturas existentes na casa da rua Pouso Alegre, 404, com presume Carlos Correia.
[…]
Em data não identificada, Amílcar Agretti fundou uma escola de pintura no porão da casa da rua Pouso Alegre, 404. Carlos Correia lembra-se de que no porão da casa havia uma mesa bem grande, em torno da qual os alunos se sentavam e, sobre eles, uma luminária que vinha do teto e se colocava sobre suas a cabeças. Sempre cheia de pessoas em função do ir e vir dos alunos, Carlos descreve a casa dos avós como tendo sido muito alegre e muito freqüentada. Lembra-se também que os tios Amílcar e Aristides conviviam com muitos artistas da cidade, dentre os quais destaca Guignard e Aníbal Matos, o que nos permite crer que o bem cultural em questão tornou-se um espaço de encontro e sociabilidade de pintores e membros da elite cultural mineira da primeira metade do século XX. Além das aulas em casa, Amílcar foi também professor de pintura no extinto Instituto João Pinheiro, escola pública de aprendizes e artífices que existiu na Avenida Amazonas entre 1909 e 1934.
Apesar de todas estas atividades, Carlos Correia afirma que a família não possuía muitas posses, tendo tido no máximo, uma condição remediada. Afinal, não foram poucas as vezes  em que viu o seu pai, Hercílio dos Reis de Aquino, sugerir aos cunhados Amílcar e Aristides que fizessem maiores investimentos na escola de pintura e vendessem os quadros por um preço mais rentável, dizendo-os “muito humildes”. A estas sugestões, os irmãos respondiam sempre que a “arte não tem preço”, diz Carlos Correia.
Com o falecimento de Francisco Agretti em 1922, sua filha Aristides, já casada, morou na casa da rua Pouso Alegre com seu marido para fazer companhia à mãe por alguns anos. Nesta ocasião, em 1928, nasceu Carlos Correia de Aquino. Após o falecimento de Aurélia Séptimo
Agretti, em 1944, a casa passou a ser habitada por Helena e Amílcar Agretti. Após o falecimento deste último, em 1968, Helena permaneceu morando sozinha no imóvel até o seu falecimento, por volta de 1989. A partir de então, a casa permanece desabitada. Em 2008, a casa foi leiloada, sendo adquirida pelo Sr. Cláudio Souza Santos.
O arquiteto, construtor e escultor João Morandi nasceu na Suíça, em 1862, tendo estudado na Escola de Belas-Artes de Berna (Suíça), na de Clermont-Ferrant, na França e na Escola de Arquitetura de Lausanne. Trabalhou em La Plata, na Argentina, transferindo-se, em 1896, para Belo Horizonte, a convite da Comissão Construtora da Nova Capital. No ano seguinte, montou atelier anexo à sua residência, denominado “Construção de Obras e Fábrica de Pedras Plásticas”. Exercia as atividades de arquiteto, projetando residências e edifícios, e de escultor, realizando trabalhos ornamentais. Seus principais trabalhos como escultor em Belo Horizonte foram: Palácio da Liberdade, Secretarias de Estado, Instituto de Educação, Igreja São José, Capela do Rosário, Conservatório Mineiro de Música, Palácio da Justiça, Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, Igreja Nossa Senhora de Lourdes, Prédios da Estação Central do Brasil e Estação Oeste de Minas. Como arquiteto, foi responsável pelo projeto das seguintes edificações: Palacete Dolabela, localizado onde, atualmente, encontra-se o Edifício Niemeyer, propriedade de Leopoldo de Paula Andrade, na rua Tamoios, 530 (demolida), edificação na rua Sergipe, 877 (demolida), propriedade de Leopoldo de Paula Andrade, na rua Tamoios 530 (demolida), edificação na avenida Paraná, 94 (demolida), remodelação, em 1923, do atual Colégio Minas Gerais, localizado na avenida Augusto de Lima, 104, residência de Fausto Ferraz, conhecida por Vila Anita, localizada na rua Sergipe, 440 (demolida). São também de sua responsabilidade os bustos dos governadores Antônio Carlos, João Pinheiro e Raul Soares, a alegoria da Caridade que ornava a antiga Santa Casa de Misericórdia (demolida) e a imagem do Bom Pastor, do Asilo Bom Pastor
Fonte: Dossiê de tombamento.

Caracterização Urbanística e Arquitetônica: A casa da rua Pouso Alegre n.° 404 foi construída nos lotes 19 e 20 do quarteirão 008C, Sexta Seção Suburbana. Os referidos lotes já figuravam, com as mesmas dimensões atuais, na planta de subdivisão de lotes aprovada em 27 de fevereiro de 1920, na gestão do prefeito Affonso Vaz de Mello. Os lotes figuram, ainda, no levantamento cadastral datado de 1942, realizado durante a gestão de Juscelino Kubitschek frente à Prefeitura de Belo Horizonte (1940 a 1945). Nesta oportunidade, foi realizado um levantamento da cidade com o objetivo de realizar um cadastro territorial e imobiliário para fins de ação tributária, tarefa que gerou um minucioso trabalho de detalhamento dos imóveis que, no mapeamento, aparecem numerados e desenhados em planta baixa.
No referido levantamento cadastral, nota-se que a região na qual se localiza a casa em questão já possuía ocupação consolidada na década de 1940 e, dentre os exemplares remanescentes do princípio do século XX aos anos 1940 localizados na rua Pouso Alegre, no entorno imediato do bem cultural da rua Pouso Alegre n.° 404, foram indicados para proteção por tombamento as edificações localizadas nos n.°s 338, 361, 252, 262, 290, 273 e 303. Outros bens culturais situados nas imediações, cujas construções são do mesmo período, são o Hotel Palladium – rua Varginha n.° 210, e a atual sede do grupo Giramundo, na rua Varginha n.° 235, ambos protegidos por tombamento. Em data posterior ao citado período foram construídas as edificações da rua Pouso Alegre n.° 331, que já se encontra tombada, além das casas situadas nos números 282 e 295, indicadas para tombamento.
[…]
O bem cultural em questão, implantado junto ao alinhamento das ruas Pouso Alegre e Arthur Lobo, desenvolve-se em um pavimento sobre porão alto e apresenta partido retangular, em bloco único. A estrutura é formada por alvenaria de tijolos maciços, o piso em tabuado assentado sobre barroteamento e a cobertura em engradamento de madeira sobre o qual foi instalada a cobertura em telhas francesas, dispostas em duas águas. O acesso principal, voltado para a rua Pouso Alegre e em nível com esta via, é feito através de portão metálico, localizado na porção direita da fachada principal, e após este, por porta em madeira almofadada de acesso ao interior da edificação.
Representante do ecletismo característico dos primeiros anos de ocupação da capital, o bem cultural em questão apresenta fachada principal, voltada para a rua Pouso Alegre, composta com a predominância de planos cheios sobre os vazados e acabamento em argamassa com pintura. Os vãos, em verga reta e dotados de cercaduras em massa, receberam fechamento em esquadrias de madeira pintada, com folha em veneziana, na porção inferior, e vidro na superior, além de bandeira fixa em madeira e vidro. Complementa a composição o coroamento feito pela platibanda, separada do paramento da fachada principal por cornija aplicada em toda a extensão da fachada e, nas extremidades, os falsos pilares em ressalto. Destaca-se que em relação ao projeto original, verifica-se a alteração nos vãos desta fachada: o vão central, que correspondia a porta principal de acesso no projeto inicial, foi transformado em janela que, no entanto, possui as mesmas características das demais.
A fachada voltada para a rua Arthur Lobo apresenta o mesmo esquema compositivo, mas nesta já se faz evidente o embasamento, também revestido em argamassa com pintura, que corresponde ao porão alto.
Já a fachada posterior é marcada pela predominância dos planos vazios, definidos pelo alpendre no primeiro pavimento e pela arcada na porção correspondente ao porão alto. O alpendre é sustentado por pilaretes em madeira, forro em madeira e parede ornamentada por pinturas parietais, de autoria presumível de Amílcar Agretti. Os vãos voltados para o alpendre, em verga reta, são vedados por esquadrias com folhas em madeira com pintura e vidro e bandeira fixa, também em madeira com pintura e vidro.
Internamente, devido ao estado de conservação do bem cultural, não foi possível descrever  detalhadamente o agenciamento interno e os materiais de acabamento, mas verificam-se perdas no piso em tabuado, no forro em madeira e nas esquadrias em madeira. Apesar do precário estado de conservação do bem cultural, é possível notar a existência de diversas pinturas parietais também na parte interna do bem cultural.
Fonte: Dossiê de tombamento.

CONJUNTO:

Belo Horizonte – Imóvel à R. Pouso Alegre, nº 331
Belo Horizonte – Imóvel à R. Pouso Alegre, nº 338
Belo Horizonte – Residência de Amílcar Agretti

FOTOS:

MAIS INFORMAÇÕES:
Dossiê de Tombamento


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