Borba – Santuário Estadual de Santo Antonio de Borba


Imagem: Google Street View

O Santuário Estadual de Santo Antonio de Borba, em Manaus-AM, foi tombado por seu valor arquitetônico, histórico e cultural.

CEDPHA – Conselho Estadual de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico do Amazonas
Nome Atribuído: Santuário Estadual de S. Antonio de Borba
Localização: Av. Eduardo Ribeiro, esquina com R. Teodoreto Souto, s/n – Centro – Manaus-AM
Processo de Tombamento: Lei no 856, de 23/12/1950

Descrição: A primeira capela da aldeia Trocáno ou Vila de Borba, dedicada a Santo Antonio, foi construída pelo Padre jesuíta João de Sampaio (Sampaio) um dos grandes apóstolos do Brasil. Segundo o historiador José Caeiro, contemporâneo dos fatos, Sampaio fundou Trocáno em 1724, portanto nesse mesmo ano a capela. Além das aldeias residenciais e suas capelas, os jesuítas como todos os Missionários, tinham outras capelas que visitavam periodicamente. Entre estas podemos colocar Trocáno, enquanto a sede era Santo Antonio das Cachoeiras (perto de Porto Velho).
Em 1751, tinham os jesuítas em Trocáno, boa casa de residência e angariavam-se fundos para uma nova igreja, quando tudo parou devido à perseguição movida pelo Marquês de Pombal, contra a Companhia de Jesus (Serafim Leite – Tom. III – Livro 4, Cap. 3). Os primeiros Vigários nada fizeram. Mendonça deixara em Borba uma pequena força, comandada por um dos seus tenentes. Tendo saído os jesuítas, foi nomeado pároco interino Feliciano da Costa. Pouco depois brigam pároco e tenente. Mendonça tira o clérigo secular e nomeia um Carmelita como vigário. Nova briga. Mendonça em lugar de averiguar os fatos, queixa-se para Lisboa que o Carmelita era pior que o clérigo a ponto de lhe escrever cartas destemperadas.
A obscura aldeia de Trocáno ou Vila de Bora, tornou-se logo conhecida. Na inauguração troaram os dois canhõezinhos. Sabendo isso, o Marquês de Pombal, que procurava de toso os modos caluniar e destruir os jesuítas, propalou em sua célebre “Relação Abreviada” que os jesuítas se achavam fortificados em Trocáno, sendo os Padres alemães, desta aldeia e dos Abacaxis, disfarçados guerreiros. E assim o descarado engano correu mundo. (Lucio de Azevedo – Os Jesuítas do Gr. Pará).
Com a perseguição Pombalina iniciada em Borba, ruiu a gigantesca obra da Cristianização da Amazônia.
A igreja de Borba ficou no abandono. O Santo Frei Caetano Branção, Bispo do Pará, que em visita pastoral esteve em Borba de 19 a 21 de setembro de 1788, escreve em suas Memórias: A mesma igreja está coberta de palha, as paredes esburacadas e negras, o pavimento de terra solta, os altares nus e com bastante indecência, pobríssima de ornamentos e alfaias… Quanto à Igreja espiritual diz: Em tudo a mesma deformidade.
Mas que se podera esperar, se como mais adiante escreve o Bispo, aquele que devia ser o modelo do rebanho, conforme ensina o apóstolo S. Pedro, levava uma vida pecaminosa. Diz o profeto: Et erit populs sicut sacerdots.
Conforme o engenheiro J. N. da Silva Coutunho (Relatório sobre alguns lugares da Província do Amazonas), os jesuítas começaras uma igreja mas que não foi concluída, cujos grossos alicerces viu em 1861. Mas o citado engenheiro não viu somente os alicerces como também parte da fachada com 1 metro e 12 centímetros de espessura e de argamassa muito fraca, de barro, pedra e cal. Essa fachada foi continuada pelos Coitinhos e depois, na reconstrução da Igreja, pelo atual Vigário, a matade dela foi conservada e serve de apoio à lage de cimento armado do Coro. A Igreja porém feita pelos Cotinhos era toda de taipa. Os esteros todos de Acariquara de qo e mais metros de altura. Tinha de comprimento 44 metros e 46 centímetros e de largura 10 metros e 40 centímetros.
Essa metade da fachada antiga, com a torre colonial da esquerda foi conservada como lembrança dos beneméritos e santos Jesuítas e dos Coitinhos benfeitores de Borba, sua terra natal. De junho de 1853 até dezembro de 1869, “serve de Matriz uma casa particular”. Dizem os antigos que é a casa onde se está construindo o Internato Coração de Maria. Em 1861, o mesmo J. M. da Silva Coutinho escreve: “A Matriz atualmente em construção tem 50 palmos de frente por 150 de fundos… há por enquanto a coberta de telha e os moirões… O teto foi mal construído e por isso abateu em alguns pontos…”
Em dezembro de 1869 já estava pronta pois ocorre o assentamento de batizados: nesta paroquial Igreja de Santo Antonio “de Borba”. O Vigário interino Pe. Francisco Benedito da Fonseca Coitinho Mons. Coitinho muito depois, mandou construir arcadas sobre colunas, ao lado das paredes para aguentar o telhado. Foi construtor o português, mestre Antonio Joaquim Pereira, que faleceu em Borba em 11 de fevereiro de 19×9. Um dos pedreiros auxiliares do Português ainda vive.
Segundo o Relatório da Província do Amazonas, volume V, pag. 757, diz o Dr. Domingos Jacy Monteiro, Presidente da Província: “A Igreja da Freguesia de Borba construída quase toda… mediante as esmolas dos fieis, apesar da sua falta de elegância e defeitos de arte, é a segundo igreja da Província”. Parece que, com a morte do Vigário colado Antonio Franco, a Paróquia ficou vaga.
Era visitada periodicamente por diversos sacerdotes. Também deparamo-la anexa à Canuman. Em 1906, Mons. Coitinho pede e obtém provisão de Vigário de Borba. Em 1916, falece. Desta data em diante, ficou anexa primeiramente a Manicoré e depois a Itacoatiara, até 1936. Tendo D. Basilio Pereira conseguido um sacerdote do Estado da Bahia, foi este nomeado pároco. Estando a Igreja precisando não só de reparo como de reconstrução, o novo Vigário auxiliado pelos tesoureiros Paulo Mourão e Paulo Fadul, católicos maronitas, deu início às obras. Junto às velhas paredes de taipa, levantaram-se as de alvenaria. As varandas foram transformadas em naves laterais. Em frente à capela-mór, fez-se o transepto com duas fachadas e coros, ficando assim a igreja bem ventilada. Construíram-se novos altares, colocaram-se vitrais coloridos, procurou-se dar à Casa de Deus, o que melhor podia oferecer uma Paróquia pobre.
Durante a Cabanagem, quando de todas as partes afluíam fugitivos, à procura de abrigo, foi a Igreja de Borba o Forte, o Hospital de Sangue o refúgio das famílias.
Continua sendo a mesma Igreja de Santo Antonio feita pelos Santos Jesuítas, a mesma onde oficiou e foi sepultado o santo Carmelita Frei José das Chagas, a mesma que foi o baluarte, o Hospital e o abrigo durante a Cabanagem. Ela é um lugar santo e querido de Deus. Todos que nela entram sentem-se envolvidos por um ambiente de piedade e unção. Anualmente, para ela afluem mulheres de fieis. São tantas as graças alcançadas, por intercessão de Santo Antonio, que tornou-se o maior Santuário do Amazonas. Nela se cumprem as palavras do Evangelho: “Pedí e recebereis”.
Texto: Pe. Bento José de Souza – Vigário de Borba em seu segundo centenário.
Fonte: Segundo Centenário de Borba.

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Segundo Centenário de Borba
Silva; Sousa; Teixeira
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