Campo Grande – Morada dos Baís


Imagem: Prefeitura Municipal

A Morada dos Baís foi tombada pela Prefeitura Municipal de Campo Grande-MS por sua importância cultural para a cidade.

Fundac – Fundação Municipal de Cultura
Nome Atribuído: Morada dos Baís
Localização: Av. Noroeste, n° 5140 – Centro – Campo Grande-MS
Resolução de Tombamento: Decreto nº 5390, de 4 de junho de 1986

Descrição: O edifício hoje conhecido como Morada dos Baís foi construído em etapas, entre os anos de 1913 e 1918, para abrigar a família do italiano Bernardo Franco Baís. Segundo fontes orais, o projeto para o sobrado teria sido de responsabilidade do Eng. João Pandiá Calógeras e a construção teria ficado a cargo de um italiano chamado Mathias e acompanhada pelo próprio Bernardo Baís. Ainda na época de sua construção, no mesmo terreno, foi construída uma edificação térrea e linear com vários compartimentos que abrigava o setor de serviços, além de contar com uma área de jardim que ocupava praticamente toda a quadra (SILVA, 1985).

Na época da construção do sobrado, a Avenida Afonso Pena, a oeste, encerrava nas imediações da edificação, sendo prolongada apenas com a chegada dos quartéis no início dos anos de 1920. O edifício foi o primeiro sobrado da Avenida Afonso Pena, o primeiro sobrado em alvenaria de tijolos e o segundo sobrado no contexto urbano. A história oral local afirma que seu proprietário, Bernardo Baís, solicitou ao engenheiro da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, responsável pela construção, para que fosse alterado o traçado da ferrovia para que a mesma passasse em frente ao casarão, fazendo então uma curva em planta, pedido que foi acatado pelo então engenheiro, porém o fato não se pode comprovar, pois talvez tal curva já fosse prevista desde o início em decorrência das áreas de várzea que os trilhos deveriam vencer para que conseguisse alcançar a oeste, saída para Corumbá.

A personalidade mais representativa nas artes em Campo Grande, Lydia Baís, filha de Bernardo Baís, morou no sobrado durante alguns anos. Em uma de suas passagens pelo edifício, provavelmente na década de 1930 (MARTINS, 2003), a artista pintou alguns afrescos nas paredes internas do edifício, pinturas essas que sobreviveram ao tempo e ainda permanecem nas paredes do edifício. O acervo da artista foi doado para a população do estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Fundação de Cultura, tombado em 1998 em nível Estadual pela resolução/SECE, estando sob a salva-guarda das obras até então.

Bernardo Franco Baís faleceu em 1938 e, por ironia do destino, atropelado pela Maria Fumaça que tanto amava. Após a morte do patriarca, o sobrado foi arrendado para o Sr. Nominando Pimentel em 1938, e ali instalou uma pensão, deste fato o nome pelo qual o sobrado ficou conhecido na cidade durante muitos anos, o de Pensão Pimentel. O edifício passou por um grande incêndio em 29 de junho de 1947, destruindo todo o madeiramento da cobertura e dos assoalhos. A partir de 1979, o sobrado deixa de ser pensão e abriga diversos usos para fins de comércio e serviços, tais como: sapataria, escola de datilografia, fornecimento de marmitas, costureira, conserto de TV, casa lotérica, alfaiate e etc. O período marcado pelos diferentes usos do edifício se estende até o ano de 1984, quando é parcialmente desocupado, restando apenas uma sapataria na Avenida Noroeste (SILVA, 1985).

O edifício ficou desocupado e abandonado pelos anos subsequentes, sendo que, em 1988, passou pelo 2º incêndio de sua história que danificou parcialmente o madeiramento da cobertura, esquadrias, piso e uma das escadas, bem como problemas graves com os rebocos das alvenarias (MELO, 1988). Em 1993, foi incorporado ao patrimônio do município que em parceria com o SEBRAE/MS iniciou o processo de recuperação do prédio e revitalização do espaço do casarão da Avenida Afonso Pena, o uso destinado após os serviços de engenharia e arquitetura foi o de Centro de Informações Turísticas e Culturais de Campo Grande (SECTUR, 2018). O projeto para o casarão foi desenvolvido pelos arquitetos Regina Maura Lopes Couto, Fernando Antônio de Castilho e Mário Sérgio Sobral Costa. A intervenção partiu do princípio norteador de devolução deste espaço público à sociedade, e também pelo entendimento que a recuperação do edifício passava, necessariamente, pela recuperação dos afrescos pintados por Lydia Baís.

Em 17 de maio de 1995 é inaugurado o Centro de Informações Turísticas e Culturais e o prédio da Morada dos Baís é devolvido para a sociedade, totalmente recuperado. O edifício abrigou ainda o Museu Lídia Baís, a sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes e diversas atividades e manifestações culturais.

Em 2015, o Termo de Autorização de Uso nº 03 autoriza o Serviço Social do Comércio – SESC, Administração Regional no Estado de Mato Grosso do Sul, a utilizar de forma compartilhada o espaço físico do imóvel ‘’Morada dos Baís’’, de propriedade da Prefeitura Municipal de Campo Grande.

A Morada dos Baís foi erigida com influências do ecletismo europeu, estilo presente no Brasil desde o final do século XIX e início do século XX, e que representava principalmente a ornamentação das fachadas e a profusão de estilos em um mesmo edifício. O valor cultural do edifício se faz presente nas diferentes análises possíveis em relação ao bem, no âmbito político, por exemplo, pois possui relação direta com Bernardo Franco Baís, 1º Juiz de Paz e 1º Intendente de Campo Grande, tendo o italiano contribuído na implantação e desenvolvimento da cidade em sua gênese, além de ter sido um dos principais comerciantes da região sul do antigo Mato Grosso no início do século XX, chegando a ser sócio de uma das principais casas de comércio de Corumbá, a WANDERLEY, BAÍS & CIA, empresa que movimentou a economia da região.
Fonte: Prefeitura Municipal.

Síntese Histórica: Data de Construção – 1913 a 1918

Nome do construtor – Segundo fontes orais, o projetista seria o engenheiro João Pandiá Calógeras.

Técnicas Construtivas – Alvenaria de tijolos maciços revestido com argamassa, aberturas com quadros e vedos de madeira e vidro, cobertura em trama de madeira e telha de barro tipo francesa.

Descrição arquitetônica – Embasamento em soco corpo com trama de pilastras colossais emparelhadas. Faixa à altura do pavimento com balcões. Aberturas em arco pleno no térreo, com molduras de arquitrave e aduelas de fecho. Coroamento com arquitrave, friso, cornija e muro ático. Frontispício com frontão redondo e óculo no tímpano. Na lateral, frontão triangular. Elementos de arremate de coroamento agulha. Inspiração eclética.
Fonte: Prefeitura Municipal.

Histórico do município: O Sul de Mato Grosso até o início do século XVIII, quando ocorre a descoberta de ouro em Cuiabá, é uma região banhada por índios e paraguaios remanescentes das missões jesuítas espanholas. Os espanhóis, no século XVI, introduzem o gado no Sul de Mato Grosso e iniciam a exploração e a comercialização da erva-mate. Algumas tribos indígenas, entre elas, os Guaicuru, aprendem com os espanhóis a usar o cavalo como montaria e o manejo do gado, tornam-se cavaleiros e são os primeiros fazendeiros sul-mato-grossenses.
A prosperidade das minas de ouro cuiabanas leva a coroa portuguesa a criar a Capitania de Mato Grosso, em 1748, e a assinar, com a Espanha, o Tratado de Madri, em 1750. Após estes dois fatos, os portugueses procuram tomar posse do Sul de Mato Grosso, construindo fortes e presídios no Vale Paraguaio. Assim, além de assegurar a Cuiabá o acesso aos grandes centros econômicos e políticos, rechaçam, também, a expansão espanhola que colocava em risco a posse das minas de ouro de Cuiabá.

A exploração de minas de ouro em Cuiabá permite a intensificação do trânsito das bandeiras paulistas no Sul de Mato Grosso. Entre as rotas fluviais utilizadas por estas bandeiras está a do Rio Pardo. Dois dos afluentes do rio Pardo e que são explorados pelos bandeirantes, no século XVIII, são o Anhanduí-Guaçu e o rio Anhanduí, este último formado pelos córregos Prosa e Segredo. Isto evidencia a presença dos descendentes dos portugueses nos campos, onde mais tarde surge o povoado de Campo Grande.
No século XIX, a decadência das minas de ouro de Cuiabá, de Minas Gerais e outras localidades provocam nestas Províncias instabilidades políticas e econômicas. Estes fatores possibilitam a migração de cuiabanos, goianos, mineiros, paulistas e gaúchos para o sul de Mato Grosso. Estes novos bandeirantes vêm atraídos pela fertilidade do solo, pela grande quantidade de gado bovino nos campos de Vacaria e Pantanal, e fundam núcleos populacionais ou reativam outros.
Após a Guerra com o Paraguai intensifica-se a migração para o Sul de Mato Grosso. Em 1872, José Antônio Pereira acompanhado de dois filhos e mais alguns homens saem de Monte Alegre, Minas Gerais, de onde outros já haviam saído, rumo às terras do Sul de Mato Grosso. Atravessam o rio Paranaíba, penetram o Sul de Mato Grosso, passando por Sant’Ana do Paranaíba e pelo rio Sucuriú, transpõem os cerradões do rio Pardo, e acampam nas terras onduladas da Serra de Maracaju.

José Antônio Pereira encontra, nesta região, o poconeano João Nepomuceno e algumas famílias camapuanas fixadas ao longo do córrego Prosa, onde cultivavam suas roças. O que chama a atenção de José Antônio Pereira, é o viço do milharal e outros cereais cultivados por esses posseiros. Inspeciona o lugar e constata a fertilidade do solo, a amenidade do clima, a existência de boas pastagens e boa aguada. Esses fatores convencem José Antônio Pereira a não prosseguir viagem e iniciar uma roça a exemplo dos demais posseiros destes campos.
No início do ano seguinte, José Antônio Pereira regressa a Minas Gerais, de onde retornaria três anos depois, com toda a sua família e alguns agregados, sendo a comitiva composta de sessenta e duas pessoas.

Durante a ausência de José Antônio Pereira, permanece como guardião de sua roça, João Nepomuceno. Em junho de 1875 chega aqui outro mineiro, Manuel Vieira de Souza, que veio com seus antecessores de mudança para Campos de Vacaria, em companhia de seus familiares e alguns escravos.
João Nepomuceno procura se informar do recém-chegado, se ele tinha notícia de José Antônio Pereira, não obtendo a informação desejada e desesperançado do seu retorno, dado o longo tempo decorrido, negocia com Manuel Vieira de Souza a transferência de posse, não sem antes ressaltar os direitos de José Antônio Pereira.
Em agosto de 1875 chega a Campo Grande José Antônio Pereira, conduzindo sua expedição composta de onze carros mineiros, os quais, além das provisões necessárias aos primeiros tempos, traziam também sementes, mudas diversas, inclusive cana-de-açúcar e café. Em seguida à sua chegada José Antônio Pereira se entende com Manuel Vieira de Souza, e se juntam para organizar a ocupação de Campo Grande.

A história oral admite que José Antônio Pereira não é o primeiro desbravador a instalar moradia na confluência dos córregos Prosa e Segredo, ela aponta, também, a existência de uma comunidade negra, no Cascudo, hoje Bairro São Francisco, contemporânea a chegada dos primeiros desbravadores descendentes dos portugueses. Entretanto, esta mesma história oral reconhece que José Antônio Pereira, falecido em 1900, influenciou nos primeiros tempos a sistematização da ocupação do povoado. Ele dirigiu e orientou as demarcações das posses, procurando harmonizar os interesses daqueles que pretendiam se fixar no vilarejo.
A localização de Campo Grande atendia os objetivos econômicos e estratégicos da Companhia de Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, por isso, a cidade é escolhida para sediar uma Diretoria Regional que atenderia todo o Sul de Mato Grosso. A Companhia além de construir instalações para abrigar seus serviços técnicos e burocráticos, constrói, também, casas para atender todos seus funcionários.
A ferrovia favorece a transferência do eixo econômico Cuiabá e Corumbá, através do rio Paraguai, para Campo Grande e São Paulo.

Simultaneamente, à regularização das viagens ferroviárias, o governo federal, em 1921, através do Ministério da Guerra Pandiá Calógeras, transfere de Corumbá para Campo Grande, o comando da Circunscrição Militar. Este conjunto congregaria todas as unidades militares sediadas no Estado de Mato Grosso. Campo Grande assume o “status” de capital militar.
A partir de 1930, Campo Grande, tendo em vista sua importância socioeconômica e política, concentra as discussões sobre a divisão do Estado. Os campo grandenses objetivando apoio para o movimento divisionista, participam, ativamente, da Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas e da Revolução Constitucionalista de 1932, esta última é uma reação dos paulistas contra o governo ditatorial de Getúlio Vargas. Bertoldo Klinger, comandante da Circunscrição Militar em Mato Grosso e um dos líderes da Revolução Constitucionalista, institui o Estado de Maracaju e nomeia Vespasiano Martins para governador. Este ato eleva Campo Grande à condição de capital político administrativa no novo Estado. A derrota dos constitucionalistas contribui para a extinção do Estado de Maracaju, consequentemente, Campo Grande perde o “status” de capital político administrativa.

Esta derrota não arrefece o ânimo dos campo grandenses. Dois anos depois, em 1934, é criada em Campo Grande, a Liga Sul-Mato-Grossense, que inicialmente objetivava angariar apoio dos sul mato-grossenses, para o manifesto que seria encaminhado ao Presidente do Congresso Nacional Constituinte. A Liga coleta 13 mil assinaturas, com isso, ela visava também, sensibilizar o governo federal, particularmente, os Constituintes para que estes ao elaborarem a Nova Constituição, aprovassem a divisão de Mato Grosso.
Getúlio Vargas e os Constituintes não aprovam a divisão do Estado, mas os campo grandenses se mantém fiéis ao movimento divisionista até 1977, quando o Presidente Ernesto Geisel promulga a Lei Complementar nº 31 que cria o Estado de Mato Grosso do Sul e Campo Grande é elevada à condição de capital.
Fonte: IBGE.

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