O Modo de Fazer a Canoa Pantaneira, no Mato Grosso-MT, foi registrado por sua importância cultural.
SEC – Secretaria de Estado da Cultura do Mato Grosso
Nome Atribuído: Registro do Modo de Fazer a “Canoa Pantaneira” – Mato Grosso
Localização: Estado de Mato Grosso
Resolução de Tombamento: Portaria n° 016/2010, de 24/3/2010
Livro de Registro dos Saberes
Descrição: Considerando que o registro desse bem cultural imaterial promoverá sua preservação e perpetuará o modo de fazer, pois o ato de confeccionar a canoa ultrapassa o artefato em si, e seu registro impedirá que se perca uma técnica de construção de embarcações do cotidiano do ribeirinho, do canoeiro, do pantaneiro, intrinsecamente ligada ao viver com a natureza, conhecedor da flora e fauna pantaneira, sabe o momento certo de cortar a madeira, qual a melhor madeira e tamanhos apropriados, sendo as mais utilizadas: a Piúva, o Jatobá, a Peroba Rosa, madeiras estas, mais difíceis de encontrar, podendo, ainda, serem utilizadas o Pinho Cuiabano, o Jacarandá, o Cedro, o Louro Preto, o Cambará, a Chimbuva;
[…] modo de fazer a “Canoa Pantaneira” cujo processo de confecção passa por váarias etapas, sendo a primeira a escolha da árvore, de 10 a 15 m de altura, esta madeira deve estar a aproximadamente 40 anos crescendo na natureza, o corte desse tronco deverá ser tipo boca de lobo, para direcionar a queda do mesmo. O saber do artesão na escolha da madeira apropriada leva também em conta a fase da lua, pois em plena lua minguante a madeira sofre menos ação de carunchos e de possível trinca.
O artesão usa para medir o diâmetro da árvore o palmo (que deve ter aproximadamente 22 cm) e o cipó de Imbê, encontrado na mata que deverá ter mais ou menos 2m e 64 cm, para resultar na largura final da canoa. O artesão encontra o nível e o prumo da canoa, ou seja, o centro da secção do tronco, para isso ele utiliza ferramentas de marceneiro, por serem mais práticas e exatas. Para encontrar o nível da canoa é necessário que seja usado líquido como a água. Com a medida feita, encontra-se a linha mestra responsável pelas marcações das outras linhas necessárias para dar o equilíbrio da canoa, dando a navegabilidade necessária.
Após as medidas tira-se a casca da árvore, com uma limpeza da lateral do tronco e no final a limpeza da proa e popa, para que se possam fazer as marcações das outras linhas. As linhas são feitas com cordão de algodão umedecido em uma mistura de carvão vegetal com jenipapo, para que as marcas resistam até às chuvas; com a linha umedecida é feita a bateção das linhas: as dos lados, do centro, do bojo, das curvas, da popa, da proa e do fundo da canoa. É marcada a linha do prumo da popa e da proa, com pregos, após encontrar o centro da canoa, e medindo 16 cm de cada lado; bate a linha do levantamento da popa e da proa, ou seja, a linha do prumo da popa é a mesma da proa, a mesma medida.
É feito também o talhamento com moto serra para facilitar o corte longitudinal da parte de cima do tronco que será a abertura da canoa. Em seguida são marcadas linhas de arrastamento de popa e proa na lateral e de prumo ao centro da canoa. Com o machado acompanhando todo o traçado feito com as linhas, o nível e o prumo, faz-se o arrasamento e levantamento da popa e da proa. Com um compasso de madeira são feitas às medidas da boca da largura da canoa, instrumento muito usado pelos construtores navais, por serem mais exatos que o metro, assim é tirada a simetria da canoa, ou seja, as medidas da popa e da proa têm que ser exatamente iguais.
Depois das marcações feitas começa o trabalho de cavoucar o miolo do tronco, desbastando a madeira do centro dando o formato da canoa, o uso do prumo e do nível, permite ao artesão que a canoa tenha o equilíbrio e a navegabilidade necessária.
§ 1º O registro deste patrimônio imaterial – canoa monóxila, isto é, embarcação cujo casco é feito de um só tronco de árvore, com fortes ligações com a população ribeirinha pantaneira, é encontrada em outros estados brasileiros, mais diretamente com as comunidades indígenas, com características de construção centenária a qual mantém o mesmo modo de fazer, repassado pelos construtores mais velhos, sendo este conhecimento oral e pessoal de cada artesão e que podem correr o risco de se perderem se não houver uma ação de preservação para resguardar suas práticas construtivas.
Dispõe sobre o Registro do bem imaterial para o Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Mato Grosso a “CANOA PANTANEIRA” meio de transporte e § 2º A presente implica no registro do modo de fazer o bem imaterial e histórico de pesca de sobrevivência nos rios da bacia pantaneira e amazônica.
[…] descrito no caput deste, que passa a ser tutelado pela proteção especial do Poder Público Estadual para preservar a fabricação da canoa pantaneira e das matas que são fontes de matéria-prima […].
Fonte: Decreto de Tombamento.
MAIS INFORMAÇÕES:
UFMT
Decreto de Tombamento
Imara Pizzato Quadros
Rossetto; Brasil Junior