Recife – Casa de Badia


Imagem: Google Street View

A Casa de Badia, em Recife-PE, foi tombada por sua importância cultural para o Estado.

Governo do Estado de Pernambuco
CEC-PE – Conselho Estadual de Cultural de Pernambuco
FUNDARPE – Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco

Nome atribuído: Casa de Badia – Recife
Outros Nomes: Axé das Tias do Pátio do Terço, Casa das Tias do Pátio do Terço, Casa das Tias
Localização: R. Vidal de Negreiros, nº 143 – São José – Recife-PE

Livro do Tombo: LIVRO Nº II – EDIFÍCIOS E MONUMENTOS ISOLADOS

Descrição: Neta de africanos, Maria de Lourdes Silva, conhecida como Badia, nasceu em Recife no dia 9 de abril de 1915 e se tornou símbolo da identidade e cultura negra da cidade e uma das principais representantes da religiosidade e tradição popular.

Badia morou a vida inteira no Bairro de São José em Recife (reduto de descendentes de escravos libertos que se tornaram trabalhadores de baixa renda). O local onde ela morava ficou conhecido como Axé das Tias do Pátio do Terço ou Casa das Tias, tendo sido organizado e liderado por ela e outras “xangozeiras”.

A Igreja do Terço foi construída por escravos e, segundo alguns historiadores, a área próxima teria sido um cemitério de negros escravizados.

Alguns estudiosos consideram que a Casa das Tias do Pátio do Terço corresponde ao modelo mais antigo do xangô de Pernambuco e não pode ser visto apenas como um espaço de religiosidade, mas de influencia social.

A cultura africana sempre exerceu grande influência nas regiões brasileiras, por ser o país que possui maior população de origem africana fora da África principalmente, a região Nordeste do Brasil.

As manifestações, rituais e costumes africanos eram proibidos no início do século XIX, por não pertencerem ao universo cultural europeu e não representarem sua prosperidade. Eram associadas ao atraso cultural. A partir do século XX, porém, começaram a ser consideradas expressões artísticas genuinamente nacionais e passaram a fazer parte do calendário nacional.

Foi durante o século XX que começaram a estudar as religiões de origem africana que, consequentemente, passaram a se tornar conhecidas a partir da década de 1930 como Xangôs.

Em Pernambuco, as religiões de origem afro-brasileira são chamadas de Xangô. Essa palavra refere-se especificamente a um dos orixás pertencentes ao panteão afro-brasileiro, deus do raio e do trovão. A religião Xangô, portanto, equivale ao chamado Candomblé na Bahia, Tambor de Mina no Maranhão, Batuque no Rio Grande do Sul, entre outras denominações. (MASCARENHAS; CAMPOS, p. 345-346).

A Antropologia pernambucana ligada às religiões afro-brasileiras foi construída por nomes como Ulysses Pernambucano (1932), Gilberto Freyre (1998), Gonçalves Fernandes (1937), Vicente Lima (1937), René Ribeiro (1952), Roberto Motta (1977 – 1978), e, Maria do Carmo Brandão (1986).

A cultura africana tão arraigada à nossa cultura e tão presente na música e na dança faz com que o Maracatu seja confundido com manifestação religiosa.

Badia era uma mãe-de-santo que aconselhava muita gente. A costureira, casada e sem filhos que desde muito cedo começou a fazer fantasias e adereços pra as agremiações carnavalescas, foi também uma das principais mães do maracatu e se tornou uma figura de grande destaque no Carnaval de Recife.

O Maracatu, dança folclórica típica do Estado de Pernambuco, surgiu em meados do século XVIII, a partir da miscigenação cultural da música africana, portuguesa e indígena.

A dança consiste em uma espécie de cortejo ao rei do Congo. com a abolição da escravatura desapareceu a instituição do rei do Congo, com isso, o maracatu passou a desfilar seus batuques e danças nos dias dos Santos Reis, nas festas de Nossa Senhora do Rosário e no carnaval.

Essa manifestação folclórica foi tombada em 2014 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio imaterial brasileiro.

Existem dois tipos de maracatus:

1) Maracatu Rural, também conhecido como maracatu de baque solto;
2) Maracatu Nação, também conhecido como maracatu de baque virado.

Maracatu Rural ou Maracatu de Baque Solto: Trata-se de uma manifestação folclórica com origem no estado de Pernambuco que tem como principal símbolo o caboclo de lança.
De acordo com Portal (2017, p.1) o Maracatu Rural, que é tradição do interior de Pernambuco, trata-se de uma manifestação cultural popular que ocorre durante o Carnaval e também durante a Páscoa.

Maracatu Nação ou Maracatu de Baque Virado: Sendo considerado o mais antigo ritmo afro-brasileiro, trata-se de uma manifestação folclórica com origem no estado de Pernambuco formado por um conjunto musical percussivo que acompanha um cortejo real.

Os maracatus dançam ao som de Tarol, zabumba e ganzás e as danças são marcadas por coreografias bem específicas e os participantes representam personagens históricos como Reis, Rainhas e Embaixadores.

As cerimônias dos maracatus visam obter a proteção dos Orixás, o sucesso das apresentações e a boa realização dos desfiles sem nenhum incidente. As “calungas”, que são bonecas iniciadas, representam os ancestrais e seus orixás utilizando nomes de nobres e fidalgos e prestam reverências religiosas.

Foi Badia quem estabeleceu, juntamente com o sociólogo e jornalista Paulo Viana, na década de 1960, o encontro das nações de maracatu no Pátio do Terço para a cerimônia da Noite dos Tambores Silenciosos. (MASCARENHAS; CAMPOS, 2011).

O que vem a ser a Noite dos Tambores Silenciosos? O evento, que acontece sempre no Pátio do terço, no centro de Recife, na segunda-feira de carnaval, é uma mescla de religiosidade com expressão artística popular, trata-se na verdade da reunião de maracatus vindos de várias partes de Pernambuco. À meia-noite quando as luzes do bairro são apagadas e as alfaias (instrumentos musicais) silenciadas, acontece o momento mais esperado do evento, os participantes começam a entoar cantos e rezas para homenagear os negros escravizados e pedir proteção aos orixás. Nesse ano de 2017, comemorando o 57° aniversário, reuniram-se 28 nações de maracatu de baque virado.

Segundo Silva (2016, p. 325), Badia gostava de intitular-se “costureira de Carnaval” e participava de várias agremiações carnavalescas, entre elas a escola de samba Estudantes de São José, o bloco Verdureiras de São José e o clube Vassourinhas. Apesar disso não gostava de associar sua imagem a nenhum grupo em particular.

Desde muito cedo Badia começou a costurar fantasias, aos doze anos costurava para uma troça de criança, a “Fumaça não assa carne”, dos Coqueiros.

A década de 1970, marcou o início do fenômeno da espetacularização do Carnaval do Recife quando as agremiações faziam sua apresentação com o objetivo de agradar e atrair o público espectador. Nesse cenário as escolas de samba tornaram-se as principais atrações da folia de Momo local em detrimento às legítimas representações da cultura pernambucana.

De acordo com Silva (2016, p.333), os representantes da Fundação de Cultura tendo como missão principal resgatar a “originalidade” do Carnaval do Recife, ou seja, devolver a ele o seu aspecto popular, decidiu fazer uma homenagem à Badia, uma das principais figuras do Carnaval da cidade. Assim sendo, o carnaval de 1985 foi em sua homenagem.

A escolha de Badia foi em torno de sua liderança na cultura negra em Recife, afirmada entre outros aspectos pela Sociedade São Batolomeu (que se reunia em sua casa) e da Noite dos Tambores Silenciosos e, a sua indubitável popularidade adquirida através de sua ligação com agremiações carnavalescas.

A ligação de Badia com várias agremiações carnavalescas, talvez, esteja associada à sua relação com o bairro de São José. Durante muitos anos, esta localidade concentrou uma elevada quantidade de agremiações carnavalescas, além de ser um espaço de forte atividade comercial. Possuía aguda concentração populacional de indivíduos que trabalhavam no comercio e moravam no próprio bairro (Silva, 2016, p. 334).

Toda a trajetória de Badia ocupa um lugar na memória da sua ligação com as Tias do Pátio do Terço e alguns dos mais importantes acontecimentos ligados à cultura negra popular mantidos ano após ano refletem sua importância como uma das principais figuras do carnaval recifense.

“A grande Dama do carnaval de Recife” ou a “1ª Dama do Carnaval do Pátio do Terço”, Badia, faleceu aos 76 anos de idade no dia 17 de julho de 1991.

CURIOSIDADE: Em 1997, foi criada a prévia carnavalesca conhecida como o “Baile Perfumado” em homenagem à fundadora, diretora, madrinha, costureira e bordadeira de vários grupos carnavalescos, a mãe Badia.
Texto: Cláudia Verardi.
Fonte: Fundaj.

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