Recife – Placa de 1889 do Clube do Cupim


Imagem: Mara Ligia Scotton

A Placa de 1889 do Clube do Cupim, em Recife-PE, foi tombada por sua importância cultural para o Estado.

Governo do Estado de Pernambuco
CEC-PE – Conselho Estadual de Cultural de Pernambuco
FUNDARPE – Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco

Nome atribuído: Placa Indicativa/Comemorativa aposta em 1889 pelo Clube do Cupim – Recife
Localização: Recife-PE

Observação: A placa original encontra-se sob guarda de um museu da cidade. A placa no local é uma réplica.
Fonte: Rodrigo Cantarelli.

Descrição: Na placa, lê-se: “Neste local existiu a casa demolida em 1977, onde o Clube Cupim abrigava escravos antes de transportá-los para lugar seguro, durante a campanha abolicionista. Memória do Instituto Arqueológico”.
Fonte: Sandra Schmitt Soster.

Descrição: Na história dos movimentos abolicionistas em Pernambuco, o Clube do Cupim tem um lugar de destaque, apesar de pouco ter sido escrito sobre ele.

A partir de 1880, multiplicaram-se no Brasil as sociedades contra a escravidão, que tinham como objetivo básico angariar fundos para comprar cartas de alforria de escravos. Em Pernambuco existiram mais de trinta dessas sociedades, que foram a gênese do Clube do Cupim, pois muitos dos seus sócios fundadores já participavam ativamente de algumas delas.

Em 24 de março de 1884, o Ceará decretou a libertação de todos os escravos daquela Província. Intensificou-se a campanha contra a escravidão em todo o País.

João Ramos, um maranhense que mudou-se para o Recife aos 14 anos, idealizador e fundador do Clube do Cupim, sonhava em realizar também em Pernambuco o mesmo que fizeram os cearenses. Passou a proteger escravos recomendados a ele, tornou-se conhecido dos negros que o procuravam pedindo ajuda para comprar suas cartas de alforria, prometendo pagá-las com o seu trabalho.

Em 1883, com o auxílio de amigos, João Ramos já havia estabelecido uma rota segura para os escravos fugidos, enviando-os para Mossoró, no Rio Grande do Norte, de onde eram transferidos para Aracati e Fortaleza, no Ceará.

No dia 8 de outubro de 1884, João Ramos reuniu-se com mais onze amigos, na casa de um deles, o cirurgião dentista Numa Pompílio, na Rua Barão da Vitória, 54 (atual Rua Nova) para fundar uma sociedade não emancipadora, mas abolicionista e secreta denominada Relâmpago, que depois mudou o nome para Clube do Cupim.

A sociedade não tinha estatuto e seu único lema era a libertação dos escravos por todos os meios. Como era uma sociedade secreta, seus sócios adotavam um “nome de guerra”, utilizando-se dos nomes das províncias brasileiras da época (atuais estados). Foram seu fundadores: João Ramos, presidente (“Ceará”); Guilherme Ferreira Pinto, tesoureiro (“Goiás”); Alfredo Pinto Vieira de Melo, secretário (“Minas Gerais”); Fernando de Paes Barreto, o orador do Clube (“Maranhão”); Numa Pompílio (“Mato Grosso”), João José da Cunha Lajes (“Amazonas”); Barros Sobrinho (“São Paulo”), Antônio Faria (“Rio Grande do Sul”); Gaspar da Costa (“Rio de Janeiro”); Nuno Alves da Fonseca (“Alagoas”); Alfredo Ferreira Pinto (“Bahia”); Manoel Joaquim Pessoa (“Rio Grande do Norte”) e Luís Gonzaga do Amaral e Silva (“Pernambuco”).

O Clube do Cupim passou depois a ter vinte sócios efetivos. Cada sócio tinha sob suas ordens um capitão, este um sub-capitão que, por sua vez, comandava vinte auxiliares. Todos tinham que adotar um “nome de guerra” utilizando os nomes de localidades brasileiras. Dessa maneira, sempre com vinte sócios efetivos, o Clube do Cupim chegou a contar com mais de trezentos auxiliares.

Além dos fundadores, o Clube passou a contar depois com os seguintes sócios efetivos: Venceslau Guimarães (“Paraná”); Salles Barbosa (“Paraíba”); José Manoel da Veiga Seixas (“Sergipe”); Mendes Guimarães (“Pará”), que por medo de comprometer-se pediu para sair, sendo substituído por Joaquim de Oliveira Borges; Pedro da Costa Rego (“Santa Catarina”), que também foi substituído por Antônio Ferreira Baltar Sobrinho. Por último, ainda em 1885, entraram José Mariano (“Espírito Santo”), o mais notável dos seus membros e Argemiro Falcão (“Piauí”).

Em junho de 1885, o Recife preparou-se para receber Joaquim Nabuco. O Clube do Cupim, apesar da sua discrição colocou um anúncio no Jornal do Recife(dias 14 e 16):

Clube do Cupim: ‘‘A diretoria deste patriótico clube, convida seus numerosos consócios e a todos os homens de cor, que quiserem acompanhar ao Dr. Joaquim Nabuco no dia de sua chegada, a comparecerem no Largo do Arsenal da Marinha, a seis e trinta da manhã”.

Foram realizadas, no total, 21 sessões na sede do Clube, até que no dia 1º de novembro de 1885, resolveram dissolvê-lo por causa das perseguições. Não tinham mais um local fixo para suas reuniões, porém os cupins, como eram conhecidos os abolicionistas, continuavam a atuar clandestinamente.

Evitando ajuntamento, a comissão executiva encontrava-se em diversos locais: sob as árvores da Rua do Imperador, no meio das pontes, nos fundos de armazéns ou vendas, na Praça da República e até na Rua da Aurora, em frente à chefatura de polícia. Discutia, deliberava, dava as suas ordens aos capitães que por ali rondavam e estes iam repassando para os companheiros, que as executavam com brevidade, fielmente e na íntegra.

Todo o trabalho era facilitado porque possuíam adeptos e simpatizantes em todo lugar. Havia uma grande quantidade de “panelas”, como eram conhecidos os esconderijos dos escravos que a sociedade ajudava a libertar.

Suas atividades eram cada vez mais intensas. Os escravos fugiam dos engenhos aos bandos, deixando alguns quase vazios.

O termo “cupim” passou a ser usado até pelos abolicionistas do Rio de Janeiro que pretendiam “libertar os centros populosos e fazer roer o cupim no interior”.

Aqui no Recife, os carregamentos e envios de escravos clandestinos para outros locais, passaram a ser mais numerosos e freqüentes. Os escravos eram enviados também para Camocim, Natal, Macau, Macaíba, Belém, Manaus, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e até Montevidéu, no Uruguai.

A última façanha do Clube do Cupim foi o embarque de 119 escravos, realizado no dia 23 de abril de 1888. Desceram à noite, do Poço da Panela, da casa de José Mariano em uma canoa de capim até a Capunga, sendo depois rebocados por dois botes que fundearam em frente a casa de banhos, passando daí para o barco Flor de Liz e, na manhã seguinte, para um rebocador que os levou para a liberdade. No dia 13 de maio, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea.
Texto: Lúcia Gaspar.
Fonte: Fundaj.

Information on the Clube do Cupim: In the history of abolitionist movements in Pernambuco, the Clube do Cupim stands out, despite having little written about it.

From 1880, the number of societies against slavery, whose basic objective was to raise funds to buy letters of manumission for slaves, multiplied in Brazil. In Pernambuco, there were over thirty of these societies which formed the genesis of Clube do Cupim, as many of its founding members had already actively participated in some of them.

On 24 March 1884, Ceará decreed the liberation of all the slaves of the Province. The campaign against slavery intensified throughout the country.

João Ramos, who was born in Maranhão and moved to Recife at the age of 14, was the creator and founder of Clube do Cupim and dreamt that what the people of Ceará had done could also be done in Pernambuco. He began to protect slaves referred to him, becoming sought after by black people who turned to him to help purchase their letters of manumission, promising to pay him with their work.

In 1883, with the help of friends, João Ramos had established a safe route for escaped slaves, ferrying them to Mossoró, in Rio Grande do Norte, from where they were transferred to Aracati and Fortaleza, in Ceará.

On 8 October 1884, João Ramos meet with eleven other friends in the house of one of them, the dental surgeon Numa Pompílio, at 54 Rua Barão da Vitória (today Rua Nova), to found a society that was not an emancipation society but rather a secret abolitionist one called Relâmpago (Lightning), which later changed its name to Clube do Cupim.

The society had no statute and its only motto was the liberation of slaves by any means. As it was a secret society, its members each adopted a “war name”, using the names of the Brazilian provinces at the time (nowadays states). The founding members were: João Ramos, president (“Ceará”); Guilherme Ferreira Pinto, treasurer (“Goiás”); Alfredo Pinto Vieira de Melo, secretary (“Minas Gerais”); Fernando de Paes Barreto, the spokesperson for the Club (“Maranhão”); Numa Pompílio (“Mato Grosso”), João José da Cunha Lajes (“Amazonas”); Barros Sobrinho (“São Paulo”), Antônio Faria (“Rio Grande do Sul”); Gaspar da Costa (“Rio de Janeiro”); Nuno Alves da Fonseca (“Alagoas”); Alfredo Ferreira Pinto (“Bahia”); Manoel Joaquim Pessoa (“Rio Grande do Norte”) and Luís Gonzaga do Amaral e Silva (“Pernambuco”).

The Clube do Cupim eventually grew to have twenty effective members. Each member had under their command a captain, who had a sub-captain who in turn commanded twenty auxiliaries. Everyone had to adopt a “war name” using the names of Brazilian localities. In this way, always with twenty effective members, the Clube do Cupim reached over three hundred auxiliaries.

As well as its founders, the Club took on the following effective members: Venceslau Guimarães (“Paraná”); Salles Barbosa (“Paraíba”); José Manoel da Veiga Seixas (“Sergipe”); Mendes Guimarães (“Pará”), who for fear of compromising himself requested to leave the club and was replaced by Joaquim de Oliveira Borges; Pedro da Costa Rego (“Santa Catarina”), who also was substituted by Antônio Ferreira Baltar Sobrinho. Lastly, still in 1885, José Mariano (“Espírito Santo”), the most notable member of the club, and Argemiro Falcão (“Piauí”) joined.

In June 1885, Recife prepared itself for the visit of Joaquim Nabuco. The Clube do Cupim, despite its discretion, placed an announcement in the Jornal do Recife (on the 14th and 16th):

Clube do Cupim: ‘‘The directory of this patriotic club invites its numerous members and all men of colour who wish to accompany Dr. Joaquim Nabuco on the day of his arrival, to meet at Largo do Arsenal da Marinha, at six-thirty in the morning”.

In total, 21 sessions were held at the Club’s headquarters until 1 November 1885, when it was resolved to disband it due to persecution. There was no longer a fixed location for its meetings, however, the termites, as the abolitionists were known, continued to act clandestinely.

To avoid gathering, the executive committee meets in various locations: under the trees of Rua do Imperador, in the middle of bridges, in the backs of warehouses or wholesalers, at Praça da República and even on Rua da Aurora, in front of the Police headquarters. They argued, deliberated, and gave their orders to the captains who gathered nearby, and they passed them on to their companions, who carried them out with brevity, loyalty, and in full.

All the work was facilitated because they had adepts and sympathizers everywhere. There was a large number of “panelas” (pans), as the hideaways of the slaves that society helped to liberate were called.

Its activities grew more and more intense. Slaves fled the plantations in groups, leaving some almost abandoned.
The term “termite” (cupim) began being used even by the abolitionists in Rio de Janeiro who intended “to liberate the central populations and gnaw the termite in the interior”.

Here in Recife, the shipments and transfers of clandestine slaves to other places became more numerous and frequent. Slaves were also sent to Camocim, Natal, Macau, Macaíba, Belém, Manaus, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, and even Montevideo, in Uruguay.

Clube do Cupim’s final blow was the shipment of 119 slaves on 23 April 1888. They came down the river in a grass canoe at night from the house of José Mariano in Poço da Panela to Capunga, then were ferried by two boats that anchored in front of the casa de banhos to the ship Flor de Liz and, the following morning, to a tugboat that took them to freedom. On 13 May, Princess Isabel signed the Lei Áurea (Emancipation Act).
Written by Lúcia Gaspar and translated by Peter Leamy.
Fonte: Fundaj.

FOTOS:

 


Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *