Rio de Janeiro – Passarela do Samba


Imagem: Ben Tavener

A Passarela do Samba, no Rio de Janeiro-RJ, foi tombada por sua importância arquitetônica, histórica e cultural.

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Nome atribuído: Conjunto da Obra do Arquiteto Oscar Niemeyer
Localização: Várias cidades brasileiras
Número do Processo: 1550-T-2007
Tombamento aprovado
Ata da reunião de aprovação do Conselho do Iphan

Descrição: “O projeto devolve ao povo o Desfile das Escolas de Samba. Para isso, os camarotes foram suspensos para a cota + 3, ficando o térreo – toda a área – entregue ao povão, como se diz. Acompanha o Desfile: de um lado, seis blocos de arquibancadas separados 30 metros com o objetivo de criar as praças populares. Do outro, um grande bloco de camarotes que segue até o fim o prédio da Brahma.
Na parte final do Desfile, as arquibancadas se separam criando a grande praça, solução que dará ao Desfile uma nova possibilidade de dança, beleza e movimento. Sua monumental apoteose. Aí foi localizado o Museu do Samba, com seus largos degraus – o palco – abrindo para a praça e o Museu propriamente dito para a Rua Frei Caneca. É o fecho da composição que um grande arco assinala, suspendendo a placa de som.
Mas o programa da Passarela não previu apenas os festejos do carnaval. Para os outros dias estarão funcionando seis grandes escolas, creches, centros de saúde, ateliês de artesanato, etc. E a praça, a grande praça, servindo a espetáculos de balé, teatro, música popular, comícios, etc. Tudo isso vai conferir ao empreendimento um caráter humano e cultural inesperado, qualificando-o como um dos mais importantes centros de cultura do país.”
“A Passarela do Samba apresenta a meu ver dois aspectos fundamentais. Um, é a sua transformação numa obra cultural, com escolas para 16 mil alunos, creches, zonas artesanais e a grande praça destinada a espetáculos de teatro, música, balé etc. Metamorfose que devemos ao espírito inquieto e criativo de Darcy Ribeiro que elaborou o programa, permitindo levar para aquela área não apenas a Passarela do Samba que afinal sempre lhe pertenceu, mas também os instrumentos de lazer e cultura que lhe faltavam. Com isso a Passarela do Samba assumiu outro conteúdo, e se fez mais humana como toda obra de caráter coletivo deveria ser.
Organizado o projeto, fixada a solução arquitetural, a grande praça por razões diversas, de espaço vital principalmente passou a constituir um prolongamento natural da Passarela. Daí surgindo a ideia de nela a inserir, enriquecendo os desfiles, fazendo-os mais criativos e atraentes.
O outro aspecto, para mim igualmente importante, num país como o nosso, cheio de incompreensões e desesperança, foi a construção da Passarela em 4 meses apenas – tempo recorde – e, o que é surpreendente dentro da técnica construtiva mais apurada, mostrando a todos o progresso da nossa engenharia e como dele se servem os nossos engenheiros quando um problema os convoca e, num desafio, nele passam a atuar. E aí cabe lembrar a contribuição de José Carlos Sussekind, responsável pelos cálculos estruturais – tantas vezes contestados! – e por ele tão bem defendidos e estudados.
O meu trabalho, a minha modesta contribuição, foi mais fácil de realizar. Embora o tempo fosse curto demais e o tema pouco generoso para os devaneios da arquitetura.
Sobre as críticas ocorridas, ridículas demais para as levar a sério, nada tenho a dizer. Lamento apenas o silêncio dos órgãos de classe conhecedores do problema e que sobre os mesmos deveriam se manifestar.
Mas o importante é a (praça) Passarela concluída, correta, irrecusável, prestes a criar os grandes espetáculos para os quais foi concebida.”
“Como aconteceu com Brasília, a Passarela dos Desfiles foi inaugurada na data prevista. Construída em tempo recorde – três meses e meio apenas – ela representa um exemplo irrecusável do progresso da nossa engenharia. Não se restringe ao carnaval propriamente dito. Graças a Darcy Ribeiro a Passarela dos Desfiles assumiu uma nova dimensão, levando para aquela área não apenas os desfiles carnavalescos que já lhe pertenciam, mas um novo complexo cultural e artístico de maior importância. Tudo isso explica o projeto que atendendo ao programa compreende a passarela, escolas, creches e uma grande praça destinada a espetáculos de balé, música, teatro etc. Uma praça como outra não existe no país: uma praça que nada tem a ver com a passarela, mas que nela poderá se inserir se para isso prevalecerem o empenho e poder criativo das Escolas se Samba.
Quanto ao meu trabalho, ele se minimiza diante da grandeza técnica da obra; da atuação exemplar de Darcy Ribeiro, modificando o programa, preocupado como sempre foi com os problemas culturais e artísticos, entre nós, nem sempre bem atendidos, do entusiasmo com que a ela engenheiros e operários se dedicaram abnegadamente.
Fiz o que me foi possível dentro de um programa limitado de arquibancadas, de um terreno exíguo demais e um complexo inusual no qual arquibancadas e escolas deveriam se adaptar harmoniosamente.
E me esmerei nas estruturas e no Museu do Samba, que com seu grande arco representa o fecho da composição, procurando dar ao projeto aspecto diferente, capaz de criar surpresa e com ela acentuar o sentido monumental e festivo da composição.
O resto é a satisfação da obra concluída; o apoio que deu o Governador Brizola; o comando incansável de Darcy; a colaboração técnica de José Carlos Sussekind; a dedicação de João Brizola e seus companheiros de equipe e o esmero com que em tempo tão curto as firmas construtoras a realizaram.
E isso sem esquecer meus companheiros de trabalho, o mural de Marianne Peretti e os azulejos de Athos Bulcão, que tanto enriquecem o museu. Oscar Niemeyer.”
“E tinha razão o meu querido amigo. Quantas perfídias fizeram contra esses projetos! Quantos romances e mentiras inventaram tentando torpedeá-los! Primeiro, que não haveria tempo de concluir o Sambódromo. Depois, que havia problemas técnicos nas suas estruturas; que um rio corria sob as arquibancadas e que choveria muito e nada poderia ser realizado. Até para São Pedro apelaram!
Correu tudo ao contrário. Projetadas pelo José Carlos Sussekind, as estruturas eram perfeitas. Não choveu, como gostariam; o rio… era um pequeno córrego que nenhum obstáculo criou e as obras se realizaram admiravelmente, terminando, como Brizola e Darcy desejavam, no prazo fixado.
E aí está o Sambódromo, pronto para receber 120 mil pessoas, e a praça da Apoteose – que Darcy imaginou – com seu belo arco de concreto a marcar o fecho da composição. O que ninguém comentou, porque não gostariam de aplaudir o nosso amigo, foi a idéia do Darcy de criar salas de aulas sob as arquibancadas. Arquibancada-escola para 15 mil alunos! ‘Nunca vi coisa igual’, declarou entusiasmado o ministro da Cultura da França, Jacques Lang.”
“No que concerne a arquitetura, o mais importante foi, primeiro, encontrar uma solução inusitada para a integração das salas de aula e das tribunas. Uma solução simples e funcional com o objetivo de não comprometer a unidade. Em seguida, dar ao conjunto um sentido plástico, inovador, qualquer coisa capaz de marcá-lo como o novo símbolo dessa cidade. Isso explica o Museu do Samba, o painel de Marianne Peretti, os mosaicos de Athos Bulcão, o grande arco, esbelto e elegante, lançado no espaço como o concreto armado permite. E tudo isto conferiu à Praça da Apoteose, que os grandes espaços tornam monumental, uma nova dimensão arquitetônica, e esse nível de bom gosto, fantasia e invenção inerente a toda obra de arte.”
Fonte: Fundação Oscar Niemeyer.

CONJUNTO:
Várias cidades – Conjunto da Obra do Arquiteto Oscar Niemeyer

FOTOS:

MAIS INFORMAÇÕES:
Iphan
Archdaily
Fundação Oscar Niemeyer
Wikipedia


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