São Bernardo do Campo – Terreiro Ilê Aláketu Asé Ayrá


Imagem: Rede social da instituição

O Terreiro Ilê Aláketu Asé Ayrá (ou Asé Batistini), em São Bernardo do Campo-SP, foi tombado por seu valor cultural para o Estado.

CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico
Nome Atribuído: Ilê Aláketu Asé Ayrá – TEMPLO CULTO SAGRADO TATÁ PÉRCIO DO BATTISTINI
Localização: R. Antônio Batistini, n° 226 – São Bernardo do Campo-SP
Processo de Tombamento: Processo de Tombamento n° 81177/18
Resolução de Tombamento: Decreto de Tombamento n° SC-32, de 19/12/2019 – publicada no DOE de 21/12/2019, p. 75
Observação: Os terreiros foram localizados em áreas vazias do  terreno urbano para segurança dos mesmos, buscando evitar crimes de ódio religioso.

Descrição: O Ilê Alákétu Asé Ayrá, que é de culto de nação Ketu, foi fundado em meados dos anos 60, na zona norte de São Paulo, por Pérsio Geraldo da Silva, conhecido como Tatá Pérsio de Xangô, instalando-se em São Bernardo do Campo em 04/02/1972. Tatá Pérsio freqüentou o terreiro de Caio Aranha, Aché Ilê Obá, tendo sido iniciado por Pai Nezinho de Muritiba na Bahia, em 1968, e Mãe Menininha do Gantois. Assim, suas práticas remontam ao período inicial da formação do Candomblé em São Paulo.
Os terreiros de Candomblé, historicamente, se configuraram como locais de resistência contra o sistema escravagista e, atualmente, são lugares de sociabilidade, transmissão de conhecimento, preservação de identidade e espaço para manutenção das práticas culturais de matriz africana, que contribuíram para a formação cultural brasileira em termos de festividades coletivas, em diversos campos artísticos e estéticos e nas práticas alimentares.
Fonte: Condephaat.

Descrição: Pai Pércio, homem nascido em Bauru, cidade do interior de São Paulo foi iniciado em Salvador pela célebre Mãe Simpliciana e o mais que reconhecido Pai Nezinho, ambos filhos de Ògún, Sacerdotes do Terreiro de Òsùmàrè e Ibese Alákétu, respectivamente. Com a morte dos seus Sacerdotes, Pai Pércio concluiu suas obrigações com a venerada Mãe Menininha do Gantois, porém, sem desfazer os vínculos com o Òsùmàrè e com o Ibese Alákétu. Dessa forma, Pai Pércio jamais renegou suas três casas, tampouco, esqueceu-se de Pai Caio Aranha, que o encaminhou nos primeiros passos da sua vida religiosa, ainda na Umbanda da Rua Mucuri, no Jabaquara.

Em verdade, o Terreiro de Candomblé de Pai Pércio não foi o primeiro fundado em São Paulo. Nesta terra da garoa, antes da edificação do Ilé Alákétu Asè Airá, outros Terreiros de Kétu, Efon e Angola já realizavam de forma recorrente obrigações em homenagem aos Àwon Òrìsà e Minikisi. Apesar disso, é inegável afirmar que Pai Pércio tornou-se um divisor de águas para a história do Candomblé Paulista, assim como o Asè por ele fundado.

Pai Pércio foi o responsável por trazer para São Paulo pessoas do mais profundo conhecimento religioso do Candomblé da Bahia, plantando assim, a semente daquilo que hoje colhemos. Foi por meio de Pai Pércio que pessoas como Mãe Rosinha de Sàngó e Mãe Bida de Yemoja chegaram em São Paulo, disseminando sua religiosidade inicialmente no Asè Batistini e, posteriormente em outros Terreiros de SP. Desde os primeiros momentos acostumou-se em estar ladeado pelas chamadas “mocotonas”. Nas antológicas festas de Airá, alegrava-se com a presença de suas irmãs e seus irmãos. Dessa forma, reuniam-se no último sábado de junho para festejar o Dono do Fogo, além de Mãe Bida e Mãe Rosinha, pessoas como Tia Cabocla, Tia Roxa, Pai Jorge, Tio Bento, Tio Valter, Tio Carlinhos, Tia Doroti, Tia Dó, Mãe Nilza, Tia Carmelita, Tia Beth, Tia Valquíria, Pai Bobó, Pai Waldomiro, Mãe Jujú, Ekeji Lalá, Tia Ana, Tia Leonor, Egbon Elza, Tia Cidália, Pai Pece, além de toda a comunidade do Candomblé Paulistano.

Foi também, na Casa de Pai Pércio que muitos rituais foram implementados em São Paulo, trazidos pelas mãos dos seus mais velhos. Mais o que tornou Pai Pércio o Sacerdote tão conhecido e reconhecido, não foi a presença dos antigos ao seu lado, mas sim, a capacidade que teve em aprender com cada um e, sobretudo, a generosidade em compartilhar com tantas pessoas, o conhecimento de anos acumulado – Pai Pércio foi um Mestre, no sentido mais amplo da palavra.

Em São Paulo, muitas casas surgiram pelas mãos dele e tantas outras renasceram por seu intermédio. Pai Pércio deixou uma marca por onde passou; um Asè plantado, um ritual esclarecido ou uma cantiga ensinada. Em tempos em que não havia Facebook, tampouco whatsapp e que viagens para Salvador ou telefonemas interurbanos eram privilégios para poucos, Pai Pércio consolidava-se como uma espécie de o Grande Conselheiro do Candomblé de São Paulo, tornando-se a referência para todo e qualquer assunto Religioso.

Muitos Sacerdotes em momentos de dúvidas recorriam a Ele, isso fez com que ele agrupasse um grande número de filhos com Casas abertas, sendo reconhecido por muitos como o Babalorisà de Sacerdotes. Além da sapiência inquestionável, possuía uma clarividência acurada, deixando muitas pessoas inertes às suas palavras.

Dono de um carisma único, Pai Pércio encantava a qualquer um em cinco minutos de conversa. Cantava e dançava como poucos. Ao som do Alujá, que tanto tive o prazer de tocar para Ele, reinava imponente e absoluto em seu Palácio, mostrando de forma evidente que ele era um verdadeiro filho de Sàngó, como ele mesmo costumava dizer.
Texto: Opotun Vinicius
Fonte: Rede social da instituição.

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