Amapá – Iconografia Maracá e Cunani


Imagem: Lídia Lobato Lea

A Iconografia Maracá e Cunani foi reconhecida como patrimônio cultural imaterial do Estado do Amapá.

ALAP – Assembleia Legislativa do Estado do Amapá
Nome Atribuído: Iconografia Maracá e Cunani
Localização: Estado do Amapá
Decreto de Registro: Lei n° 1.747, de 10/05/13

Maracá: A região do Igarapé do Lago e Maracá e foi motivo de pelo menos treze (13) missões arqueológicas, quatro (4) no final do Século XIX. O primeiro registro de um sítio arqueológico Maracá foi feito, em 1872, por Domingos Soares Ferreira Penna (NUNES FILHO, 2005).
Ferreira Penna foi duas vezes à região do rio Maracá, em 1872, onde localizou três sítios arqueológicos, com presença de urnas funerárias de cerâmica colocadas em abrigo, sob rochas, uma ao lado da outra e de pé embaixo de lapas próximas ao Igarapé do Lago. As urnas encontradas tinham características diferentes: foram encontradas urnas tubulares antropomorfos e outra zoomorfa. Os objetos recolhidos foram urnas em perfeito estado, para comporem as coleções do Museu Paraense Emílio Goeldi (NUNES FILHO, 2005). As urnas Maracá foram encontradas em cavernas próximas ao Igarapé do Lago e do Holanda e […] possuindo escala entre 1 a 2 metros de altura.

No ano de 1877, Ferreira Penna retornou ao rio Maracá com objetivos de novas pesquisas, e recolheu mais urnas. Nas urnas encontradas, duas delas continham cinco crânios, as mesmas foram levadas para o Museu Nacional a fim de serem analisadas.
Anos depois em 1896, o tenente coronel Aureliano Lima Guedes que trabalhava como auxiliar do Diretor do Museu Paraense, Emílio Goeldi, realizou um levantamento geral na área. O Igarapé do Lago e seus afluentes foi uma das regiões exploradas. Nelas, Guedes localizou três sítios arqueológicos que, pela presença de urnas funerárias, chamou-se de “necrotérios de indígenas”. Guedes encontrou duas urnas onde havia uma pulseira de contas de vidro brancas e azuis. O achado destas pulseiras evidenciou o contato do grupo com europeus nos séculos XVI e XVII (NUNES FILHO, 2005).

Segundo Guapindaia (1997), o etnólogo alemão Kurt Nimuendaju explorou o rio Maracá/Igarapé do Lago em 1915. Neste percurso registrou cinco sítios e fez uma coleção de duzentos e quarenta e oitos (248) fragmentos de cerâmica. Os sítios foram localizados na terra firme, em área de “terra preta”, possuindo vestígios de
material cerâmico e lítico. Considerou a possibilidade dos locais não terem sido abandonados há muito tempo, uma vez que, a mata ainda estava se recompondo.
A região de Maracá em 1988 foi alvo de um projeto de pesquisa onde na coordenação estava o pesquisador Klaus Hilbert, que tinha como objetivo detectar sítios pré-cerâmicos pertencentes a um estágio caçador-coletor. Realizou cortes estratigráficos, em um local conhecido como Buracão do Laranjal, que continha um abrigo sob rocha, onde se encontrou objetos líticos e vestígios de fogueira. Além do sítio pré-cerâmico foram encontrados e registrados oito sítios com restos de cerâmicas ao longo do rio Maracá, onde se realizou coleta de material cerâmico.
Nunes Filho (2005, p. 57- 58) relata que:

No ano de 1995 teve inicio um levantamento arqueológico sistemático na área do Igarapé do Lago, região do Maracá, resultado do Projeto “Estudos arqueológicos no Amapá: tentativa de resgate de pré-histórica da região do rio Maracá-Igarapé do Lago”, o qual foi realizado pela arqueóloga Ana Lúcia da Costa Machado do Museu Paraense Emílio Goeldi. O resultado inicial desse projeto sistemático em 1995 – 1996 foi à localização de vários sítios arqueológicos sítios cemitérios e um grande número de urnas tubulares antropomorfas e zoomorfas e, outras artefatos arqueológicos que se encontra na reserva técnica do Museu Paraense Emílio Goeldi.

As descobertas dos sítios arqueológicos na região do rio Maracá, próximo ao Igarapé do Lago, possuem uma característica especial, uma vez que as margens do igarapé são dilatadas na época das chuvas que em muitos casos fez com que as urnas fossem deterioradas por essas exposição à umidade no decorrer do tempo em que ficaram no sítio.
Fonte: Lídia Lobato Leal.

Cunani: O nome da cerâmica Cunani está relacionado à localização geográfica em que foi encontrada: o Monte Cunani, no Município de Calçoene.

A descoberta do sítio arqueológico do Monte Curú ou Renovado foi realizada por Emílio Goeldi e o tenente – Coronel Aureliano Pinto de Lima Guedes nos anos de 1848 a 1912, em Cunani12. Nos meses de outubro e novembro de 1895, foi realizada uma nova expedição científica, que ficou conhecida do então Museu Paraense de Historia Natural e Etnographia, atualmente conhecido como Museu Paraense Emílio Goeldi (NUNES FILHO, 2005).

Essa expedição tinha como objetivo a realização de levantamento científico na região, que naquela época encontrava-se em uma disputa territorial entre a França e o Brasil. As pesquisas aconteceram de forma otimista, com descobertas sobre os repositórios sepulcrais. Goeldi relata que:

Procuravam-se elevações e colinas idôneas; a identidade de circunstancias exteriores nos dous casos (alto do Morro da Igreja de Cunany e monte Curú no igarapé do Holanda) o denota distinctamente, eliminando logo qualquer duvida de que se poderia tratar talvez de um caso excepcional e único em relação ao monte Curú. (GOELDI, 1905, p. 23)

Nessa expedição foram encontrados no monte Curú dois túmulos subterrâneos (poços artificiais), ou seja, dois poços com câmera com dezoito peças de cerâmica conservadas, e além dos fragmentos de cerâmica, uma asa zoomorfa (NUNES FILHO, 2005).

As urnas Cunani foram encontradas em poços artificiais […], pois o corte lateral (1) explicita não apenas a distância em relação ao rio, a altura dos poços e a proximidade entre elas; o corte superior (2) mostra uma visão por sobre o poço, deixando clara a intenção de proteger as peças das águas do rio e com a colocação das lages de granito por sobre os poços, a tentativa de proteger de violações e das águas pluviais.
Goeldi fez um relatório especificando a quantidade de urnas encontradas em cada poço, generalizando as peças como se fossem encontradas somente em um poço, como esta em seu relato:

Retiramos 19 (18) vasos inteiros de ambas ellas, além de cacos e fragmentos de outros. Aplicando provisoriamente para estes vasos nomes da nossa actual terminologia domética trivial, distinguimos entre elles bandejas (1), alguidares (4) […], potes (12) e moringas. E embora tão diversas na forma, quase todos os vasos continham em maoir numero de quantidade fragmentos de ossos humanos, sendo por isto evidente, que elles tinham antes de tudo um fim funerário ( GOELDI, 1905, p. 23-24).

Este relato de Goeldi esclarece não apenas a finalidade da expedição, mas também a finalidade das peças encontradas, ressaltando ainda que as cerâmicas faziam parte de rituais funerários, buscando evidenciar que as cerâmicas Cunani eram encontradas em poços artificiais. Esse era o ponto excepcional da expedição: encontrar cerâmicas com finalidade funerária e seu local de depósito (os poços artificiais).
Fonte: Lídia Lobato Leal.

FOTOS:

MAIS INFORMAÇÕES:
Leal; Costa
Lídia Lobato Leal


Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *