Betim – Conjunto Urbano da Colônia Santa Isabel
O Conjunto Urbano da Colônia Santa Isabel foi tombado pela Prefeitura Municipal de Betim-MG por sua importância cultural para a cidade.
Prefeitura Municipal de Betim-MG
Nome atribuído: Conjunto Urbano da Colônia Santa Isabel (51,704 ha – área informada em laudo enviado em 2015 para exercício 2016)
Outros Nomes: Colônia Santa Isabel – Conjunto Urbano (>2 ha)
Localização: Regional Citrolândia – Betim-MG
Decreto de Tombamento: Deliberação 01/2000 de 10/04/2000 – Descaracrterização informada no laudo para o exercício 2018.
Dossiê de Tombamento
Descrição: A Colônia Santa Izabel é um exemplo notório da política sanitarista adotada pelo país na década de 20, direcionada para a erradicação de doenças contagiosas como o mal de hansen, mais conhecido por lepra. Tratava-se praticamente de um ‘campo de concentração’ da saúde, mantido pelo Estado, onde os portadores do contagioso bacilo deveriam ficar isolados preservando a integridade física de toda uma população “não contaminada”. O desenho urbano de Santa Izabel é peculiar e exclusivo de colônias desta natureza, o que reflete a problemática da lepra no início do século, a qual resultou em medidas sanitaristas de “cunho profilático”, e, por que não dizer, segregador.
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Peculiar no seu traçado urbano e na lógica de sua implementação, a Colônia Santa Izabel conforma de maneira singular um lugar de símbolos que denotam a experiência de vida dos doentes hansenianos, onde os mesmos desencadeiam uma produção histórica vinculada a um momento particular da saúde pública do país, quando a bandeira de extermínio à lepra era então hasteada. Santa Izabel, desta maneira, encerra um cenário notável, um momento particular na história do município de Betim. Os lugares simbólicos expõem e participam do fervilhar da vida de pessoas numa dinâmica inerente ao seu passado, modificados pelo fazer do presente e que desencadeia o seu futuro.
[…]
Conformada segundo critérios rígidos, sanitaristas ao extremo, a lógica urbana implantada na execução da Colônia pode ser notada no seu sítio ainda hoje. Havia todo um estudo criterioso, modelado segundo experiências em colônias européias. Desejavase que as colônias fossem…
(…) cidades de leprosos com suas enfermarias para os enfermos em tratamento e para as enfermidades intercorrentes, pavilhões de observação, habitações para casados e solteiros, jardins, campos de esportes e recreação, zonas de agricultura, onde os enfermos pudessem desfrutar de ampla liberdade dentro dos limites estabelecidos pelo regulamento interno. (…) O aspecto de lindas urbanizações com avenidas e ruas transversais com árvores de ambos os lados, com campos de esportes, pracinhas e todas as casas e edifícios separados entre si por um pequeno jardim com uma extensão que varia de seis a dez metros…
Santa Izabel era um exemplo a ser seguido, o modelo ideal de instituição, uma utopia moldada na necessidade de resguardar a sociedade frente ao mal da lepra, mas que ao mesmo tempo privava os enfermos do direito de exercer a cidadania, isolados da cidade.
Em termos de infra-estrutura, a Colônia era praticamente auto-sustentável, mantendo sistema de esgoto, captação de água e produção de energia elétrica, advindos de uma represa do Córrego Bandeirinhas. Para a década de 30, era considerado um avanço o seu traço urbano, que influenciou a reforma urbana do Rio de Janeiro, conforme ASSIS, p.41.
…Além da infra-estrutura avançada para a época, foram construídos, ainda, equipamentos de lazer coletivo, como o cine-teatro Glória e os clubes recreativos. Refletindo a religiosidade, não poderia faltar a igreja para completar o quadro local…
O principal critério norteador da implementação das colônias era a divisão do sítio em três áreas: área dos doentes, área intermediária, áreas dos sadios; que por sua vez eram ocupados por diferenciados grupos de pessoas: “… o professor Antônio Aleixo incluiu no Regulamento Interno da Colônia Santa Izabel três classes de pensionistas: ‘A, B, C; tendo cada qual instalações especiais…”
A subdivisão anterior em ‘classes’ refere-se na verdade à instalação que o enfermo ocupará. Estas instalações especiais, que recebiam tais classes A, B, C conformavam a lógica do tecido urbano. Eram elas: o Leprosário, o Dispensário e o Parlatório. Um documento raro, encontrado na Biblioteca José Mariano, antigo Pavilhão Patrocínio na Colônia, expõe muito bem a subdivisão ora mencionada:
(…) de acordo com normas já consagradas em administração de Leprosários o Estabelecimento é dividido em três zonas: 1- Sadia 2- Intermediária, 3 – Doente.(…). Na Zona Sadia: estão localizados os serviços gerais de administração, a residência do Diretor, Médicos e demais funcionários. (…)
Na Zona Intermediária: Fica o Pavilhão de recepção, o Pavilhão de observação, o Parlatório e a Cozinha Geral. (…) Na Zona Doente: todas as edificações necessárias aos enfermos. (…)
Zona Sadia: Casa do diretor, Casa dos Médicos, Administração, Almoxarifado, Residência dos funcionários, garagem, padaria, escola Casa das Irmãs e Capela, Farmácia, Laboratório, Usina.
Zona Intermediária: Pavilhão de Observação, Parlatório, Cozinha.
Zona Doente: Pavilhão de diversões, Refeitório, Pavilhão para crianças, Pavilhão para moças, Pavilhão para mulheres, Pavilhão para homens, Casas geminadas, Casas Isoladas, Dispensário, Intendência, Hospital de Homens, Hospital de Mulheres, Igreja, Necrotério, Praça de Esportes, Cemitério, Residências particulares, Caixa Beneficente, Restaurante.
Estrutura Sócio-urbana atual O espaço urbano relativo à conformação da Colônia Santa Izabel sofreu poucas influências no seu tecido original dentro dessas seis décadas, pois se pode presenciar o seu pertencimento a uma época que remonta ao início do movimento moderno no Brasil, quando os novos paradigmas que direcionavam a arquitetura e o urbanismo passam a vigorar. Deste modo, no sítio natural encontram-se edificações exemplares da arquitetura proto-moderna, atualmente mal-conservadas e pouco cuidadas, embora não
descaracterizadas no seu conjunto. Esta situação se deve ao fato característico próprio do lugar, uma colônia agrícola isolada, por isto desvinculada da lógica capitalista de consumo e de transformação.
Não se pode dizer, no entanto, que a colônia pára no proto-moderno. Embora sob restrições e controlada por uma direção interna com grande poder de autonomia, o sítio sofreu processos descaracterizadores presentes em alguns lugares, principalmente nas extremidades do sítio, quando se consideram as constantes inserções desordenadas e sem planejamento de novas edificações. Estas são na sua maioria residências simples de parentes ou enfermos, construídas com recursos próprios em terrenos cedidos; ou com recursos do governo, sendo que estas últimas ocupam terrenos nos logradouros conhecidos como ruas do estado.
A Colônia Santa Izabel apresenta ainda boa parte do seu desenho original, uma malha quadrangular centrada na questão sanitarista, estruturada por uma lógica setorial, onde o núcleo da colônia concentra a Zona Doente, estando esta separada da Zona Sadia através da Zona Intermediária. Esta estrutura organizacional da implantação dos setores se correlaciona diretamente com a gradação de risco de contágio que a endemia apresenta, ou seja: Zona Doente, alto risco, Zona Intermediária, médio risco, Zona Sadia, risco nulo. […]
Fonte: Dossiê de Tombamento.
BENS RELACIONADOS:
Betim – Cine Teatro Glória
Betim – Conjunto Urbano da Colônia Santa Isabel
Betim – Portal da Colônia Santa Isabel
MAIS INFORMAÇÕES:
Prefeitura Municipal
Estou procurando familiares, onde pesquiso por nome ou documentos como óbitos e se estão no cemitério da Colônia Santa Isabel?
Boa tarde,
Sugerimos que entre em contato diretamente com a instituição que atualmente ocupa o conjunto da antiga Colônia Santa Isabel:
Casa de Saúde Santa Izabel
Horário de funcionamento: Segunda a sexta-feira, das 7 às 17 horas
Telefones:
(31) 3529-3331 ou
(31) 3529-3305
Direção:
Eliane Daniele Teixeira Magalhães
e-mail: cssi.diretoria@fhemig.mg.gov.br
Atenciosamente,
Equipe iPatrimônio
Essa informação sobre “destombamento” é equivocada. O bem cultural continua tombado pelo município. Sugiro o “ipatrimonio” entrar em contato com a prefeitura municipal de Betim, Secretaria Municipal de Arte e Cultura, Divisão de Patrimônio Histórico e Cultural.