Betim – Folia de Reis do Bairro Santo Afonso


Imagem: Dossiê de Tombamento

A Folia de Reis do Bairro Santo Afonso foi registrada pela Prefeitura Municipal de Betim-MG por sua importância cultural para a cidade.

IEPHA – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais
Nome atribuído: Folia de Reis
Número do cadastro no IEPHA: 86

Prefeitura Municipal de Betim-MG
Nome atribuído: Folia de Reis do Bairro Santo Afonso (Celebração)
Localização: Bairro Santo Afonso – Betim-MG
Decreto de Registro: Homologação: 14/01/2011 publicada no “Órgão Oficial – Atos do Executivo e Legislativo”: 5/01/2011
Livro de Registro das Celebrações
Dossiê de Tombamento

Descrição: A Folia de Reis do Bairro Santo Afonso faz parte de uma tradição de festas da natividade das divindades, que remonta à Antiguidade Clássica. Essas festas, designadas “pagãs” pelo cristianismo, foram por este apropriadas e ressignificadas, mesclando seus conteúdos com elementos cristãos.
Os romanos, por exemplo, cultuavam o Deus-Sol Invencível em festejos depois adotados pelos egípcios. As festas romana e egípcia aconteciam em datas diferentes, mas com intervalo de poucos dias entre elas, e, no ano 138, o Papa São Telésforo as regulamentou, isto é, tornou-as parte das festividades cristãs. Mais tarde, em 378, o Papa Júlio I considerou que, como não havia data fixa para a comemoração do nascimento de Jesus, o dia 25 de dezembro seria dedicado a esta recordação, ficando o 06 de janeiro como Dia de Reis.
A partir daí, as festas da natividade no âmbito do cristianismo foram, pouco-a-pouco, sendo acrescidas de elementos diversos, como as figuras de Gaspar, Melchior e Baltazar, os três reis magos que, segundo a tradição, foram do Oriente à Judéia para saudar Jesus Cristo. Conta ainda a tradição que eles levavam consigo, para presentear o Menino, ouro, incenso e mirra, que representariam as três dimensões do Messias: sua realeza (ouro), sua divindade (incenso) e humanidade, dado que o óleo de mirra era, então, utilizado para embalsamar os mortos. Uma vertente da tradição cultiva a idéia de que os reis magos se converteram e foram batizados por São Tomé, depois pregando
o Evangelho em seus países de origem. Os reis magos foram canonizados no século VIII, sendo, por isso, referidos como Santos Reis.
[…]
A devoção aos Reis Magos desenvolveu-se por toda a Europa durante a Idade Média. Segundo Jadir Pessoa (2007), isso se deve à chegada dos restos mortais destes três entes míticos à catedral de Colônia (Alemanha), em 1164. Eles para lá teriam sido trasladados de Milão (Itália) como despojos de guerra, numa conquista de Frederico Barbarrocha. E para Milão teriam sido levados no século IV ou V como presente especial da Imperatriz Helena, de Constantinopla (PESSOA, 2007, p. 63).
Enquanto fizeram todo esse percurso, foram surgindo em diversos países pinturas em catacumbas, quadros, retábulos, esculturas, altos-relevos em sarcófagos, apresentando a visita dos Reis Magos ao Menino Jesus. E, a partir de Colônia, espalharam-se por toda a Europa como parte das grandes peregrinações, a exemplo do que já acontecia em Santiago de Compostela, Terra Santa e Roma. Como heranças diretas dessas peregrinações, surgiram então os cânticos populares, muito importantes em toda a Europa medieval, chamados Noëls na França, Villancicos na Espanha e Folias em Portugal. Provavelmente, esses cantos, acrescidos do teatro de Gil Vicente, depois de José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, constituem as matrizes mais diretas das diversas devoções existentes no Brasil, como reisados, bois-de-janeiro, bois-de-reis, pastorinhas e, especialmente, no chamado “corredor das bandeiras” (SP, MG, GO, MS), as folias de reis.
[…]
No essencial, a folia é um ritual itinerante do catolicismo popular, que atualiza a memória da narrativa bíblica da visita dos Reis Magos ao Menino Jesus, oferecendo cânticos e preces e pedindo ofertas para os festejos finais do ciclo de cada ano. Sua origem remota, portanto, é a Ibéria, mas no Brasil as folias desenvolveram um caráter mais sacro, enquanto que em Portugal, o elemento profano, próximo da pândega, seria mais acentuado.
A tradicional localização rural da folia de reis, presente em algumas definições clássicas dos pesquisadores, deve ser agora relativizada, pelo evidente fato de que o intenso êxodo rural ocorrido nas décadas de 1960 a 1980, no Brasil, provocou um significativo deslocamento dessa prática, que hoje já se pode dizer majoritariamente urbana (PESSOA, 2007, p. 70).
Até o final dos anos de 1960, a folia de reis sobreviveu praticamente como uma manifestação cultural e religiosa da zona rural. De acordo com Carlos Steil, ser católico é menos uma opção religiosa do que uma condição de vida no meio rural. Neste catolicismo informado pela experiência corporal dos devotos “cabe ao praticante beber de todas as fontes, de modo que o sincretismo é a própria condição de acesso à plenitude e multiplicidade do sagrado.
O espaço privilegiado da experiência religiosa não são os sistemas religiosos em si, mas as fronteiras entre eles” (STEIL, 2001, p. 23). Se no catolicismo institucionalizado, a liderança religiosa conduzida por especialistas é consumida por leigos, nesta religiosidade popular predomina a produção de auto-consumo, conforme definida por Bourdieu (1994) (BRANCHES, 2007, p. 24).
Os anos 60 foram o fim de um relativo isolamento vivido pelo campo. Na passagem para os anos de 1970, começou a haver uma redução da população rural e ao mesmo tempo surgiu a televisão. Logo depois, veio a melhoria das estradas e dos transportes de maneira geral, que, juntos, reduziram significativamente a distância entre o rural e o urbano. Aquele antigo encantamento, a partir daí, teve que ser dividido com outros atrativos poderosos do mundo urbano.
Veio então um período de quase três décadas desfavoráveis à reprodução das folias, cada terno ou grupo sendo afetado de maneira diferenciada: envelhecimento ou redução do quadro, redução do número de moradores a serem visitados e, em muitos casos, até a extinção de grupos.
Fonte: Dossiê de Tombamento.

Descrição: Também denominadas ternos ou companhias, as folias são manifestações culturais-religiosas cujos grupos se estruturam a partir de sua devoção aos santos como: Reis Magos, Divino Espírito Santo, São Sebastião, São Benedito, Nossa Senhora da Conceição, entre outros. Geralmente, são formados por cantadores e tocadores, podendo apresentar personagens, como reis, palhaços e bastiões, que visitam casas de devotos distribuindo bênçãos e recolhendo donativos para variados fins. Apresentam características regionais e as indumentárias variam de grupo para grupo, podem ser encontrados foliões que utilizam trajes militares, vestes de palhaço, máscaras ou roupas comuns. Os instrumentos que conduzem os cantos são as violas, violão, cavaquinho, pandeiro, bumbos, sanfona e caixas. Possuem como principal elemento simbólico a bandeira e organizam-se a partir de ritos, como o giro ou jornada, encontros, festas e cumprimento de promessas.
A tradição, de origem ibérica, faz parte das celebrações mais antigas e difundidas no estado de Minas Gerais e no Brasil, e, ao longo dos anos, foi se tornando um componente de considerável importância na construção do imaginário, identidade e memória individual e coletiva dos mineiros. As Folias reúnem em torno de si diversas práticas culturais, saberes, formas de expressão, ritos e celebrações, representando uma parte importante do patrimônio cultural mineiro.
Fonte: Iepha.

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