Matozinhos – Conjunto Arqueológico e Paisagístico dos Poções


Imagem: Iepha

O Conjunto Arqueológico e Paisagístico dos Poções, em Matozinhos-MG, conta com seis sítios espeleológicos, dois paleontológicos e nove arqueológicos.

IEPHA – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico
Nome atribuído: Conjunto Arqueológico e Paisagístico dos Poções
Localização: Matozinhos-MG
Resolução de Tombamento: Decreto Nº 16/05/1996
Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico
Livro do Tombo Histórico, das Obras de Arte Históricas e dos Documentos Paleográficos ou Bibliográficos
Livro do Tombo das Artes Aplicadas

Descrição: O Conjunto Arqueológico e Paisagístico dos Poções está inserido na Região Cárstica de Lagoa Santa, com seis sítios espeleológicos, dois paleontológicos e nove arqueológicos. A Região Cárstica é divida em quatro compartimentos: 1- desfiladeiros e abismos com altos paredões; 2- cinturão de grandes depressões (valas); 3- planalto de pequenas depressões (dolinas) e; 4- planícies cársticas ou poliés. Sendo o primeiro compartimento localizado na área de Poções com seus grandes paredões, cânions e sumidouros. Na área de Poções encontram-se o Canyon do Morro Redondo, o Campo de Dolinas e o desfiladeiro de Poções. Destacam-se ainda as Grutas do Morro Redondo e dos Estudantes.

Na área tombada encontram-se os seguintes sítios arqueológicos:

  1. Lapa do Ouro;
  2. Abrigo dos Poções;
  3. Poções III;
  4. Lapa do Chapéu;
  5. Lapa do Ballet;
  6. Lapa do Porco Preto;
  7. Sítio do Porco Preto;
  8. Sítio Cerâmico.

Fonte: Iepha.

A PAISAGEM CÁRSTICA: As rochas calcárias da Região Cárstica de Lagoa Santa pertencem ao Grupo Bambuí do Pré-Cambriano Superior. As rochas calcárias estão assentadas sobre rochas do embasamento cristalino (granitos e gnaisses), sendo que o Ribeirão da Mata percorre os limites aproximados entre os calcários e o embasamento cristalino.
As paisagens cársticas são constituídas por formas desenvolvidas pela dissolução de rochas tais como calcário (carbonato de cálcio), mármore, gesso e sal. O ácido carbônico que auxilia esse processo é formado quando a água da chuva passa pelo solo, quando absorve dióxido de carbono tornando a água mais ácida. Esta água ácida dissolve prontamente a calcita que é o principal constituinte mineral do calcário, mármore e dolomito. Assim, na medida em que a rocha se dissolve, os fluxos de água subterrânea através de condutos se tornam cada vez maiores. A dissolução e os abatimentos endocársticos de condutos e grutas são os principais responsáveis pela dinâmica e evolução dos relevos cársticos. Nas zonas de recarga a água da chuva drena para a subsuperfície e posteriormente segue pela rede de fraturas, condutos e cavernas para emergir na superfície das zonas de descarga. O nome sumidouro se refere ao local onde a drenagem passa a ter um curso subterrâneo. Já as zonas de descarga são ressurgências que muitas vezes são utilizadas para o abastecimento de água para a fauna, populações humanas e animais domésticos.
As formas mais marcantes do Carste de Lagoa Santa são: (i) grandes maciços rochosos afl orando no terreno; (ii) grande quantidade de dolinas às vezes limitadas por paredões calcários; (iii) muitas lagoas associadas às dolinas; (iv) condutos subterrâneos que se conectam formando redes (v) grande quantidade de cavernas. Conforme a ocorrência das diversas formas do relevo cárstico, a Região Cárstica de Lagoa Santa pode ser dividida em quatro compartimentos distintos:
a) desfiladeiros e abismos com altos paredões;
b) cinturão de grandes depressões (uvalas);
c) planalto de pequenas depressões (dolinas); e
d) planícies cársticas ou poliés.
A ocorrência típica do primeiro compartimento está localizada na área de Poções com seus grandes paredões, cânions e sumidouros, a qual se encontra protegida pelo tombamento do IEPHA/MG. O compartimento das planícies cársticas compreende as áreas de Fidalgo e Mocambeiro. Na planície de Mocambeiro está situado o imponente sítio arqueológico do Maciço de Cerca Grande tombado pelo IPHAN, e na planície de Fidalgo quase toda ela é ocupada pela Lagoa do Sumidouro tombada pelo IEPHA/MG.
Fonte: Iepha.

AS CAVERNAS: Na área de Poções se encontram o Canyon do Morro Redondo, o Campo de Dolinas e o desfiladeiro de Poções. O Canyon do Morro Redondo se desenvolve por cerca de 1000 m na direção WS-NE . Nele destaca-se o Morro Redondo como sendo um morro residual com o ponto culminante do carste de Lagoa Santa e visitado pelo naturalista Peter W. Lund em 26 de abril de 1836. O Campo das Dolinas corresponde a depressões que funcionam como áreas de recarga do aquífero subterrâneo. Estas podem ser dolinas de dissolução apresentando vertentes mais suaves ou dolinas de abatimento formadas por colapso dos tetos de cavernas. Essas dolinas constituem sítios paleontológicos porque nela se encontram os vestígios da fauna extinta do Pleistoceno. O Desfiladeiro de Poções segue na direção SW-NE com paredões abruptos com mais de 20 metros de altura podendo chegar a 40 metros (Figura 3). A drenagem apresenta-se interrompida por trechos subterrâneos havendo sumidouros e ressurgências. O Córrego Palmeira penetra em sumidouro nas proximidades da Cimento Lafarge seguindo subterraneamente até próximo da Gruta do Ballet, para mergulhar novamente e ressurgir no Vale Cego. Nesse vale ele percorre cerca de 500 metros em superfície para tornar-se novamente subterrâneo e reaparecer na Fazenda Periperi, e continuar seu curso para a Fazenda Cerca Grande, Experiência, Jaguará e finalmente o Rio das Velhas. Além desse córrego foram detectados outros que parecem não ter ligação com o Palmeiras, o que mostra a complexidade da hidrologia cárstica e sua importância para as atividades econômicas das áreas rurais.
Na área tombada destacam-se a Gruta do Morro Redondo e a Gruta dos Estudantes. A Gruta do Morro Redondo apresenta um abismo vertical de 53 metros, um dos maiores de Minas Gerais. Quanto aos aspectos ecológicos, a gruta possui populações de troglóbios (incapazes de sobreviver no ambiente externo): o Spaeleoleptes spaeleus (Phalangida: Phalangoididae) conhecido como opilião cego e o crustáceo Trichorhina (Isopoda: Platyartthridae) despigmentado e sem olhos. Peter W. Lund esteve na gruta em 26 de abril de 1836 não encontrando material fóssil. A Gruta dos Estudantes também apresenta um abismo de 45 metros (Figura 4) e guarda nos seu sedimentos fósseis do Pleistoceno como o de um porco-do-mato (Tayassu tajacu) hoje no acervo da PUC/MG.

Fonte: Iepha.

OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS: Quanto aos sítios arqueológicos presentes na área tombada destacam-se:
(i) A Lapa do Ouro – pesquisada pela UFMG, tendo encontrado vestígios líticos (batedor, lacas), concha de molusco perfurada e fragmentos ósseos;
(ii) Abrigo dos Poções – escavado por Aníbal Matos na década de 1930 e pela Missão Franco-Brasileira em 1971 quando encontraram carvão e lascas de quartzo. No alto do paredão (10 m) está o painel de arte rupestre da Tradição Planalto onde se observa uma cobra em vermelho, linhas paralelas de pontos vermelhos, peixe, uma silhueta humana, um cervídeo preenchido por traços e pontos e uma anta. O painel está bem conservado, exceto pela presença do desenho de uma espingarda em branco e outros grafites menores (Figura 5);
(iii) Poções III – trata-se de um sítio cerâmico a céu aberto em uma área de milharal pesquisado pela UFMG, onde foram encontrados um fuso, cerâmica simples e material lítico;
(iv) Lapa do Chapéu – situada entre a Lapa do Ballet e o Abrigo de Poções, em cujo interior há uma ressurgência. Em 1978 foi sondado pela UFMG tendo sido encontrados restos de fogueira, seixo lascado e restos de fauna como strophocheillus e tatu (Figura 6);
(v) Lapa do Ballet – sondada em 1956 por Hurt & Blasi e em 1973 pela Missão Franco-Brasileira, sendo que as pinturas rupestres foram decalcadas por Josaphat Pena em 1960. Em um patamar a 5 metros de altura encontra-se o famoso painel de arte rupestre com a cena do “Ritual da Fertilidade” (Figura 8 e 9). Na extremidade anterior do patamar há um bloco rochoso com a cena de um parto, e no friso inferior do mesmo patamar se encontram, na cor preta, as fileiras de antropomorfos com sexo diferenciado (Figuras 8 e 9). Já no registro superior estão os zoomorfos nas cores branca, vermelha e laranja;
(vi) Lapa do Porco Preto – consiste em um amplo abrigo que se prolonga em uma gruta pouco profunda (Figura 10). Do lado direito há um grande bloco abatido, com cerca de 1m de altura, em cuja superfície pode-se ver um painel com numerosas gravações em baixo relevo realizadas pela técnica de picoteamento. As gravações apresentam motivos geométricos e antropomorfos compondo um belo conjunto (Figura 11). Na região há poucos casos de gravações, sendo este um dos mais importantes junto com o sítio de Caieras (2 km a norte). Encontram-se painéis, com gravações equivalentes, na região de Montalvânia e Januária no norte mineiro;
(vii) Sítio do Porco Preto – identificado em 1986 pelo IEPHA/MG, está situado em frente à Lapa do Porco Preto e é um sítio cerâmico a céu aberto. A terra possui nitidamente uma coloração mais escura que o restante do terreno, sendo possível uma pesquisa sistemática revelar um aldeamento;
(viii) Sítio Cerâmico Periperi – trata-se de um sítio cerâmico localizado na meia vertente de uma colina próxima à fazenda Periperi, da qual parte uma estrada que corta o sítio. No barranco do corte da estrada de terra pode ser vista cerâmica por mais de 300 metros, indicando a presença de um grande sítio. Em 1977, a UFMG realizou pesquisas no local tendo sido informada de que há décadas tinham sido encontradas urnas funerárias.
No Abrigo de Caieras, pouco distante a norte, foram obtidas datações de 9.600 ± 200 anos, o que indica que a região de Poções foi habitada por coletores – caçadores, e posteriormente por agricultores como indica a presença de vários sítios cerâmicos.
Fonte: Iepha.

FOTOS:

MAIS INFORMAÇÕES:
Iepha
IEF
ICMBio
Mylène Berbert-Born
Deus; Ferreira; Rodrigues
Iepha – Guia vol.2 – p. 81-84
Wikipedia


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