Fortaleza – Igreja de São Pedro dos Pescadores


Imagem: Google Street View

A Igreja de São Pedro dos Pescadores foi registrada pela Prefeitura Municipal de Fortaleza-CE por sua importância cultural para a cidade.

COMPHIC – Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Histórico-Cultural
Nome Atribuído: Igreja de São Pedro dos Pescadores
Localização: Fortaleza-CE
Resolução de Registro e Resolução de Tombamento: Decreto n° 13.031/2012 e Decreto n° 13.032/2012
Bem de natureza material e imaterial

Descrição: Fica registrado no livro dos Lugares a IGREJA DE SÃO PEDRO DOS PESCADORES, nesta capital, haja vista o seu alto valor simbólico, portador de inelutável referência à identidade e à memória da sociedade fortalezense. Fica tombada, em caráter definitivo, a IGREJA DE SÃO PEDRO DOS PESCADORES, nesta capital, haja vista o seu alto valor simbólico, portador de inelutável referência à identidade e à memória da sociedade fortalezense.
Fonte: Decreto de Registro.

Descrição: A Capela de São Pedro dos Pescadores, antes rodeada de um vasto areal de coqueiros, foi sendo envolvida ao longo dos anos pelo asfalto, cimento, carro, barulhos outros para além do barulho do mar, mas mesmo assim, transformada em espaço reduzido e confinada, permaneceu como lugar por excelência de encontro da comunidade do Mucuripe, hoje, bem mais diversificada e socialmente desigual do que foi no passado.

Como podemos constatar, havia um constante interesse pela área do Mucuripe, considerada estratégica para o desenvolvimento da cidade. E este interesse não era somente econômico e político-administrativo. A Igreja parece que também entendia assim.

Em 1852 foi colocada a pedra fundamental da Igreja de Nossa Senhora da Saúde, na barranca do Mucuripe, em frente a sua enseada, pelo padre Carlos Augusto Peixoto de Alencar, Vigário Colado de Fortaleza (Vitalício) e, em 1864, tem-se o registro do primeiro casamento realizado na Igreja, indicando seu pleno funcionamento.

A Fundação da Igreja num lugarejo com alguns poucos barracos de palha que abrigavam famílias de pescadores, muito provavelmente constitui-se, por muitas décadas, a única instituição existente no lugar, que pudesse indicar a presença de uma autoridade, uma vez que é somente nas primeiras décadas do século XX que o poder público se faz presente com a criação da Colônia Z-8, que organiza e demarca a área de atuação dos pescadores.

A Igreja de São Pedro, antes Igreja de Nossa Senhora da Saúde, passa a ser o lugar do encontro para práticas religiosas e, nas areais do seu entorno, realizam-se as festas da comunidade. No entanto, há evidências de que a relação entre Diocese e a comunidade era permeada por muitos conflitos, segundo alguns autores, em virtude de desentendimentos no que se refere à administração dos rendimentos da Capela e pela forma “fanática” de adoração da imagem da santa – N. S. Da Saúde; e de cunho moral, pois os autores se referem também às bebedeiras e arruaças que os homens faziam nos arredores por ocasião das festas religiosas ou não, atitudes estas consideradas desrespeitosas pela proximidade do lugar sagrado e por serem indicadores de abandono da moral familiar preconizada pelo catolicismo.

Em 1930, o Bispo D. Manuel, interdita a Capela e excomunga o responsável, devido a um fato que ocorrerá em 1909, quando o Bispo Diocesano Dom Joaquim José Vieira, nomeou uma Comissão para realizar o arrolamento dos bens da Capella N.S. Da Saúde do Mucuripe e instalar um cofre na igreja, medida esta que denota uma desconfiança em relação à algumas pessoas da comunidade e, dado o espírito da solidariedade comunitária, atinge a todos, provocando uma coesão de grupo que se manisfestará em muitas ocasiões, durante muitos anos.

Contrapondo-se à instalação do cofre na Capella, diversas mulheres da comunidade ocupam a igreja, impedindo que o cofre seja instalado, o que demonstra uma luta em defesa do que era entendido e concebido como lugar sagrado, mas, mais que isso, denota também a defesa e a apropriação material e simbólica de um dos principais signos da vida comunitária. Com esse gesto, a comunidade demonstrou não somente o espírito de religiosidade, mas o de pertença e apropriação de um modo de viver. Esse embate, talvez de forma mais silenciosa, permaneceu por mais de 20 anos, até a interdição da da Capela em 1930.

Apesar da interdição a Capela continuou como referência da vida comunitário, de religiosidade e de sociabilidade, não só para a comunidade do Mucuripe, mas até para a “capital” (forma de referir-se ao centro histórico da cidade), o que é confirmado pelo Pe. Aldery Leite quando afirma que mesmo com o fechamento da Capela por alguns anos, esta nunca deixou de ser um referencial fundamental da vida religiosa da comunidade. Quando, em 1941, Orson Welles, vem ao Ceará filmar a saga dos jangadeiros, o principal cenário da vida comunitária é a Igreja e o seu entorno, fato este que reafirmou no imaginário social, a importância da edificação como lugar sagrado e de sociabilidades, estreitamente vinculado ao momentos marcantes da vida cotidiana – o trabalho no mar, a faina da chegada e saída das jangadas, atividade artesanal na produção dos instrumentos da pesca, os casamentos, as mortes, as festas e, provavelmente uma das mais importantes celebrações comunitárias de Fortaleza – a procissão de São Pedro nas jangadas, que sintetiza, na dimensão religiosa, o sentimento de pertença e de coesão da comunidade do Mucuripe.

A Capela, lugar de resistência e defesa da vida comunitária, permaneceu fechada por sete anos, só reaberta em 1937, pelo Pe. Francisco Pinheiro Landim, com o nome de Capella de Nazaré, posteriormente mudado para Capela de São Pedro dos Pescadores. A reabertura do templo permite conjeturarmos que a comunidade permaneceu resistindo à determinação eclesiástica e lutando para reafirmar o seu principal referencial de pertença e coesão comunitária. A mobilização que hoje fazem, buscando todos os recursos e formas para preservação do templo, é testemunho maior de importância da Capela como lugar sagrado, mas, mais que isso, como reafirmação identitária e de pertença a uma comunidade de destinos.
Fonte: SeCult.

Histórico do município: Capitania dependente, o Ceará teve a sua formação econômica iniciada no século XVII com a pecuária, para fornecer carne e tração à economia açucareira estabelecida na Zona da Mata. E Fortaleza, fundada em 13 de abril de 1726, ficou à margem.

Nessa fase, a cidade primaz era Aracati. Icó, Sobral e Crato também ocupavam o primeiro nível na hierarquia urbana no final do século XVIII. Ao contrário de Aracati, de Icó e de outras vilas setecentistas fundadas nas picadas das boiadas, Fortaleza achava-se longe dos principais sistemas hidrográficos cearenses – as bacias dos rios Jaguaribe e Acaraú – e, portanto, à margem da atividade criatória, ausente dos caminhos por onde a economia fluía no território.

Por todos os setecentos, a vila não despertou grandes interesses do Reino, não tendo desenvolvido qualquer atividade terciária. Mas, em 1799, coincidindo com o declínio da pecuária (a Seca Grande de 1790-1793 liquidou com a atividade), a Capitania tornou-se autônoma, passando a fazer comércio direto com Lisboa, através, preferencialmente, de Fortaleza, que se torna a capital.

De 1808 em diante, com a abertura dos portos, o intercâmbio estendeu-se às nações amigas e, em especial, à Inglaterra, para onde o Ceará fez, em 1809, a primeira exportação direta de algodão.

Como capitania autônoma, o Ceará ingressava então na economia agroexportadora. O viajante inglês Henry Koster, que, exatamente nessa época (1810), visitou Fortaleza, não a enxergava com otimismo: “Não obstante a má impressão geral, pela pobreza do solo em que esta Vila está situada, confesso ter ela boa aparência, embora escassamente possa este ser o estado real dessa terra. A dificuldade de transportes (…), e falta de um porto, as terríveis secas, [todos esses fatores] afastam algumas ousadas esperanças no desenvolvimento da sua prosperidade”.

Em 1822, com o Brasil independente, o Ceará passou a província; no ano seguinte, a vila de Fortaleza foi elevada a cidade, o que robusteceu o seu papel primaz, dentro já da política de centralização do Império. As propriedades agropecuárias da província, a principal riqueza de então, pertenciam a pouco mais de 1% da população livre. Dado que a Lei de Terras, de 1850, só fez contribuir para a concentração fundiária, estavam fincadas então as bases das desigualdades de renda e riqueza que, embora em menor proporção, observam-se até os dias atuais no Ceará e em Fortaleza.
Fonte: Prefeitura Municipal.

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